... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Sempre tive medo de ficar anestesiada... de não sentir nada nem quando eu quisesse. Mas agora que sinto tudo mais do que deveria, entendo que isso também assusta. E muito.

 

Quando algo me preenche de alegria, eu tento segurar aquele momento com força... estico os segundos até virarem horas, e guardo cada detalhe como quem grava no corpo uma última dança. No fundo, tem algo em mim que sempre diz: "é o melhor que vai ser... o resto nunca vai se comparar". Então eu me esforço pra lembrar de tudo. Pra voltar quando não tiver mais nada que me faça sentir aquilo de novo.

 

Mas quando algo me quebra... é como se eu me estilhaçasse de verdade. Viro cacos. E mesmo quando parece que segui em frente, sei que perdi uma parte... um fragmento pequeno que não volta mais. Nunca volto a ser inteira. E isso machuca mais do que qualquer dor: perceber que dá pra se perder tanto de si mesma que você vira um monte de pedaços, e nenhum deles lembra quem tu já foi.

 

Eu temia não sentir. Só não sabia que sentir demais também era um tipo de tragédia. Ainda mais num mundo em que a gente precisa parecer bem o tempo todo... onde quase ninguém acredita quando a gente diz “tô bem”, mas pouquíssimos param pra sentar do lado e esperar até a gente conseguir dizer que não tá.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 07/08/2025
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