... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


A maneira de Florbela Espanca 

 

A vida é um sopro… mas desses que vêm embrulhados com certo cuidado. Feito pão quente de padaria, enrolado naquele papel grosso, queimado pelo sol e pelo tempo. Ele não impede que o calor escape por completo… mas conserva o suficiente pra chegar até em casa ainda cheirando a aconchego.

 

É assim que a gente caminha… apostando.

 

Aposta-se em dias que parecem certos, em afetos que parecem firmes, em caminhos que a gente jura conhecer. Aposta-se em pessoas, em planos bem alinhados… e então, sem aviso, tudo muda. A gente muda. O mundo à volta muda. E quem estava ao nosso lado, às vezes, vira lembrança. Às vezes, ausência.

 

Nos primeiros instantes, a gente não entende nada.Fica zonza. Desnorteada.

Murmura umas dores baixinho, outras em voz alta.

 

Tem raiva. Tem susto.

 

O coração parece meio torto, meio exposto demais. E tudo aquilo que era bonito, vira difícil de segurar.

 

Mas mesmo assim…

tem um calor que fica.

Um restinho de força que não se apagou.

Como o pão ainda morno no embrulho,

a gente também continua quente… de vida.

 

O que nos envolve nem sempre é firme. Às vezes rasga.

 

Mas enquanto estiver ali, servindo de abrigo, já é o bastante pra aquecer o que importa.

 

Não precisa durar pra sempre basta durar até o próximo passo.

 

E aí, a gente chega na esquina.

Senta.

Respira devagar.

Pede um café pingado.

 

E brinda

não ao final feliz…

mas à capacidade terna e valente de começar de novo.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 05/08/2025
Alterado em 05/08/2025
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras