... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Ela nasceu de um ovo... mas nunca foi apenas lagarta.

Antes mesmo de existir forma, já havia em si um chamado.

Um sussurro antigo, talvez herdado de estrelas ou de alguma memória anterior à carne.

 

E então... veio a terra.

 

Rastejou. Comeu o mundo com fome. Se arrastou entre folhas, troncos, sombras.

E mesmo ali, com o ventre colado ao chão, já sentia que havia algo além.

 

Como quem sente saudade de algo que ainda não viveu,

ela recolheu-se.

Fez de si casulo.

Silenciou o barulho da pressa, deixou o ego morrer aos poucos,

e se recolheu em fé.

 

Lá dentro… não havia espelho, nem nome, nem tempo. Só uma alquimia sagrada que ninguém explica, mas que todos, um dia, intuem.

 

E quando tudo parecia escuro demais,

ela abriu os olhos.

Não como antes.

Mas com asas.

 

É assim também com a alma.

A gente nasce achando que a vida é esse chão e se acostuma a rastejar.

Até que algo grita de dentro…

e o corpo não basta mais.

 

A borboleta é o mistério vivo. Nos lembra que a transformação não é mudança de forma, é mudança de estado de consciência. Ela não decide voar.

Ela precisa voar. Porque não cabe mais no casulo.

 

E o mais bonito?

Ela vive pouco.

Dias.

Horas, às vezes.

E nem por isso deixa de dançar no ar como se tivesse todo o tempo do mundo.

Talvez porque, lá dentro, ela tenha entendido que tempo é ilusão.

E que viver não é durar… é vibrar.

 

Entre os xamãs, os sábios do vento, os anciãos de pele rugosa e olhos que enxergam além,

a borboleta é espírito.

É portadora de mensagens.

É transformação em forma de beleza.

É aviso de que tudo muda.

E que o fim, quase sempre, é só o começo de algo mais verdadeiro.

 

A borboleta não morre.

Ela atravessa.

 

E se tu escutar com o coração…

vai perceber o som leve de suas asas sussurrando em teu ouvido:

 

"Agora… é a tua vez."

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 04/08/2025
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