sou tua vontade engasgada...

teu impulso de dizer “te quero”,

mas que cala pra não parecer demais.

sou o desejo que te atravessa feito raio

e depois fica, elétrico, no teu silêncio.

sou aquele arrepio que vem antes do toque

e nunca vira abraço presente...

sou teu sonho de ser vista sem esforço,

teu cansaço de investir em quem não te escuta,

sou teu olhar que afunda no vazio da tela,

esperando resposta de quem

te sonha inteiro...

eu sou tua voz engavetada.

de segredos escondidos em papel

de um gozo abafado...

em uma madrugada febril.

sou tua fúria educada,

tua poesia não lida,

teu corpo desejado e não possuído,

teu peito aberto

esperando alguém que caiba nele.

sou teu eco,

tua urgência,

tua coragem

travestida de paciência.

e hoje…

se tu deixar,

eu viro grito.

viro tremor,

espasmos e fogueira

pra libertar

a querencia de nós

sou teu sentimento.

que espera paciente,

... o domínio do beijo

da lingua em submissão.