... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Excelência: o mito da chegada e a urgência do caminho

Se alguém acha que excelência é um troféu na estante ou uma nota 10 numa avaliação trimestral… te enganaram bonito.

 

Excelência não é um lugar. É um desconforto. Um incômodo com o que já é... uma inquietação que insiste em melhorar o que muitos chamam de suficiente. Aristóteles já dizia que “a excelência é um hábito”, não um dom, não uma meta, muito menos um banner institucional com selo ISO.

 

Mas vamos destrinchar isso com mais coragem.

 

➡️O que é, filosoficamente, excelência?

 

No pensamento aristotélico, excelência (areté) está ligada à função própria de cada coisa ou ser. O martelo é excelente se prega bem. O ser humano é excelente se vive segundo a razão e a virtude. Só que essa virtude não é santidade... é consistência.

 

Nietzsche, por outro lado, rasga a ideia de virtude moral e aponta pra superação de si. Pra ele, a excelência é um rompimento com o que nos faz medíocres. É transvalorar, romper os ídolos morais, vencer a si mesmo, o que é, diga-se, exaustivo... e solitário.

 

Byung-Chul Han, mais atual e ácido, critica o culto da performance. Para ele, o excesso de positividade e produtividade cria o que chama de “sociedade do cansaço”, onde buscamos excelência por medo de não servir mais. Viramos máquinas que se autoexploram... até quebrar.

 

Excelência é potência, mas também limite.

 

➡️Críticas de quem busca a excelência

 

Quem busca a excelência, cedo ou tarde, será chamado de exigente demais... inflexível... difícil.

 

Vai ouvir que “é só um detalhe”. Vai ser sabotado por aqueles que querem manter tudo morno... por quem têm medo da comparação.

 

E quando, enfim, atingir um resultado fora da curva, virá a solidão. Porque a excelência de alguém incomoda os acomodados ao redor.

 

Pessoas excelentes carregam, muitas vezes, culpa. A de sempre parecerem insatisfeitas. Mas não é arrogância. É visão de mundo. É saber que poderia ser melhor.

 

➡️Estudo de caso: Natura & a excelência sustentável

 

A Natura é um exemplo brasileiro que merece ser citado aqui; não pela perfeição, mas pela insistência em pensar grande. Desde os anos 2000, investe pesado em inovação com impacto social e ambiental. Sua cadeia produtiva na Amazônia é referência mundial.

 

Mas o que pouca gente vê é o custo dessa escolha: fornecedores insatisfeitos com a rigidez de critérios, mercados que preferem o lucro ao cuidado, críticas por não crescer na velocidade dos tubarões. Ainda assim... manteve o norte.

 

A excelência exige coragem de sustentar princípios mesmo quando eles desaceleram o lucro.

 

➡️A realidade brasileira: a terra do “dá-se um jeito”

 

No Brasil, excelência quase sempre é sinônimo de exagero. Nosso país é mestre na cultura da gambiarra, do provisório permanente, do “faz assim mesmo”. O erro é tolerado... o acerto é boicotado.

 

Nossos serviços públicos raramente entregam com qualidade. A educação básica despreza o aluno excelente, chamando-o de “metido”. O mercado corporativo prefere o político ao competente.

 

➡️Buscar excelência por aqui é um ato de rebeldia.

 

É nadar contra a cultura do improviso institucionalizado. Caminho possível

 

1. Autoconhecimento real – Não existe excelência sem saber o que tu és... e o que tu não és. Foca no teu ponto forte. Treina o fraco, mas não te sabota tentando ser tudo.

 

2. Constância brutal – Excelência é acordar todos os dias e fazer melhor. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que ninguém reconheça.

 

3. Ambiente fértil – Excelência não cresce em solo árido. Te cerca de gente inquieta, que te puxe pra cima. Gente que te fale a verdade; mesmo que doa.

 

4. Coragem de bancar o incômodo – O mundo aplaude o mediano que obedece... e critica o excelente que questiona. Aguenta a pressão.

 

5. Humanidade no processo – A excelência fria vira arrogância. A excelência com compaixão... vira referência.

 

Conclusão

 

Excelência não é ser melhor que o outro. É ser melhor que teu ontem. É levantar do chão e ainda querer lapidar o que te derrubou. É ter padrão... sem perder a ternura. E se for pra deixar um legado, que seja o incômodo bonito de saber que dá pra ser maior do que nos permitiram ser.

 

Então... larga a meta, esquece a IA, desliga o KPI por um instante e olha no espelho. Tá disposto a pagar o preço da excelência?

 

Porque bonito mesmo... é quando ela te olha de volta e diz: é isso, segue... mas nunca para.

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 19/07/2025
Alterado em 19/07/2025
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