![]() Por uma cultura corporativa que pare de romantizar o desrespeito travestido de agilidade
Em muitos ambientes corporativos, há uma frase que se repete com frequência desconcertante, sempre dita por alguém em posição de liderança, quase sempre em tom acusatório:
“A gente não pode burocratizar demais.”
À primeira vista, parece um chamado à inovação. Um alerta contra a morosidade. Um clamor por eficiência. Mas, na prática, o que se vê muitas vezes por trás dessa fala é o desejo de alguém que não quer seguir regras... e que, por ocupar um cargo de poder, acredita que pode moldar o sistema à sua conveniência.
Essa crítica à “burocracia” normalmente aparece quando um processo impede um desejo pessoal de ser atendido de imediato, seja um pedido fora do prazo, uma mudança sem planejamento, uma demanda não prevista contratualmente, ou até mesmo... um ovo no café da manhã.
Sim. Um ovo.
Quando um líder desqualifica um processo por ele não ter atendido o seu desejo, ele está dizendo que o erro não está na falha sistêmica, mas na estrutura que não se curva à sua vontade. E isso não é gestão. Isso é arrogância operacional travestida de discurso progressista.
📍Burocracia não é o inimigo. O inimigo é o improviso que se repete.
No mundo corporativo, especialmente em áreas críticas como facilities, segurança, suprimentos e manutenção, os processos não são obstáculos, são pilares de integridade e previsibilidade.
Quando um líder “pula etapas” em nome da urgência, ele está ensinando sua equipe a fazer o mesmo. Quando ele desrespeita um contrato para atender um capricho, ele mina a credibilidade da área que gerencia aquele contrato. Quando ele exige que tudo gire em torno de si, ele transforma a cultura organizacional numa disputa de ego, e não de propósito.
É possível ser ágil com processo. É possível ser eficiente com critério. O que não é possível é criar ambientes sustentáveis em cima de vontades individuais.
🚧 As consequências invisíveis da arrogância institucionalizada
A falsa ideia de que "quem manda pode tudo" gera ambientes: ✨️Onde a exceção vira regra. ✨️Onde a pressão se sobrepõe ao planejamento. ✨️Onde o grito substitui o alinhamento. ✨️Onde o improviso vira herói... até o dia do acidente, da falha ética ou do prejuízo jurídico.
E o mais grave: quando um líder banaliza o processo, ele desvaloriza o trabalho de quem vive para fazê-lo funcionar. Toda equipe técnica, administrativa ou de apoio que atua nos bastidores se sente invisibilizada. E isso gera desmotivação, rotatividade e perda de confiança no sistema.
✍️ Revisar processos é diferente de ignorá-los
Sim, todo processo precisa ser revisto periodicamente. O mundo muda, as necessidades mudam, os contextos também. Mas revisar é diferente de desrespeitar. Melhorar é diferente de romper. Adaptar é diferente de atropelar.
O problema não está na burocracia funcional. Está no culto à liderança que se vê acima dela.
💡 Uma liderança verdadeiramente moderna sabe que: ✨️Processos não são travas, são redes de proteção. ✨️Padronização não é engessamento, é coerência ✨️Respeito à cadeia de responsabilidades não é formalismo, é maturidade organizacional.
O discurso do “anti-burocracia” só é legítimo quando vem acompanhado de uma proposta clara de melhoria — não quando é usado como desculpa para atender desejos sem critério.
🌱 Conclusão
Não é a ausência de burocracia que define uma organização eficiente. É a presença de líderes conscientes que sabem que suas decisões precisam respeitar o que sustenta o coletivo.
Porque processo bem feito não atrasa ninguém.
Mas a arrogância... essa, sim, paralisa tudo.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 03/07/2025
Alterado em 03/07/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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