... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Permissão

Tem gente que chega porque a gente deixa.

Porque a gente abre um canto da alma e acende uma luz baixinha…

só pra ver se o outro repara.

E tu reparaste.

 

Eu dei o sinal.

Discreto, mas inteiro.

E tu entendeste.

Com respeito, com doçura, com aquele cuidado de quem não vem pra bagunçar o jardim, vem pra regar devagar.

 

A gente vem trocando palavras…

não são só frases.

São frestas.

Janelas abertas pro que a gente sente, pro que a gente deseja…

e também pro que a gente ainda não sabe muito bem como dizer.

E mesmo assim, tu escutas.

Mesmo o que eu não digo.

 

Eu sigo um pouco contida, confesso.

Não por medo…

mas por ter aprendido que ser curiosa demais às vezes atrapalha a beleza do tempo das coisas.

Hoje, prefiro responder do que invadir.

Prefiro escutar antes de querer ser ouvida.

Prefiro oferecer silêncio quando o outro só precisa descansar.

 

Mas não te engana…

Eu sou feita de extremos.

Não tenho medo.

Nem de provar sabores novos, nem de confiar em gente que ainda tá chegando.

Desço em mina subterrânea se for preciso, pego estrada de terra, vou onde o pé doer,

só não vou onde a alma se perde.

 

Sou simples, dessas q sentam no chão, dessas q se interessam por quem anda descalço…

por quem sente as dores do solo e não finge que não doem.

E tu tens me olhado assim…

com esse tipo de admiração silenciosa

que vê mais do que eu conto.

 

É bonito quando alguém gosta da gente sem pressa.

Sem querer nos desmontar.

Sem exigir mais do que a gente consegue dar.

E é por isso que, contigo,

eu aprendi a deixar a porta aberta.

 

A gente passa a vida se procurando em espelhos quebrados,

e às vezes, num esbarrão calmo, encontra alguém que não nos completa,

mas que nos entende.

E que aceita caminhar ao lado.

 

Antes de qualquer coisa…

precisa ter conversa.

Precisa ter confiança.

Precisa ter amizade, escuta, e aquele pacto silencioso de que, entre nós, vai existir o sagrado das confidências.

E o impossível do julgamento.

 

Se for pra ser algo, que seja inteiro.

Se for pra não ser, que ainda assim exista respeito.

 

Mas o que já é, já vale:

essa troca bonita.

Esse começo leve.

Esse cuidado sincero.

 

Tu chegaste…

e eu deixei.

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 29/06/2025
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