... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


 

Juliana escorregou. Não foi só o corpo... foi a alma…

Foi o barulho do chão sendo arrancado debaixo dos pés

foi o tempo se abrindo em câmera lenta enquanto ela caía.

 

E ali… sem celular sem internet sem ninguém ao lado

ela teve tempo. Tempo demais pra entender que ser humana dói.

E que o real não perdoa.

 

A queda não foi só física. Foi uma queda de pensamento.

Ela teve minutos, talvez horas, talvez uma eternidade

pra sentir o frio do rochedo, a dor na carne o pânico entrando devagar pelas costelas

a saudade dos que ela amava a dúvida do que daria pra aguentar.

 

Juliana não era aventureira. Era alguém tentando viver.

Fugir. Talvez se provar pra ela mesma. Como a gente faz.

Subir um vulcão parece bonito nas fotos.

 

Mas quando se cai... não tem filtro, não tem legenda...

Tem a pedra.

Tem a sede.

Tem a solidão brutal do mundo que não responde.

 

Talvez ela tenha pensado que era só mais um passeio.

Mas não era... A natureza não avisa! Ela só leva.

 

E o mundo?

Seguiu. Rindo de meme... Discutindo bobagem.

Postando stories... Enquanto uma mulher gritava, ou talvez já nem gritasse mais

presa entre céu e abismo

esperando um socorro que não sabia se viria.

 

Juliana virou notícia.

Virou lição.

Mas será que alguém escutou?

 

Tu achas mesmo que subir sem preparo é coragem?

Tu achas mesmo que teu corpo aguenta tudo só porque tu queres muito?

A vontade não é colete salva-vidas. E Juliana entendeu isso…

com o rosto encostado na pedra, com o som do vento e das entranhas do vulcão

lembrando o tempo todo:

 

tu é só um corpo... E o corpo cansa.... E o corpo quebra.

Ela morreu como vivem muitos por aqui: em silêncio!

Ignorados... Na beira do precipício da própria escolha.

 

E isso… isso não tem desculpa.

Tem memória! E tem dor.!

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/06/2025
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