![]() Quando descobrir a Neurodivergencia (TDAH) e a superdotação, o instante me levou ao Luto de mim, ao inves da exaltaçã...(por Simone Carmo — mulher, neurodivergente, escritora do caos)
Bom dia. Ou boa noite... Tanto faz. (rs)
Se tu estás me escutando agora, talvez tu já tenhas sentido que algo em ti não se encaixava direito no molde que te deram. Talvez tu tenha crescido ouvindo que era “intensa demais”, “séria demais”, “sensível demais”. Ou que tinha muito potencial, mas era “distraída”, “atrapalhada”, “difícil”.
Eu cresci assim. Achando que eu era burra. Sim, burra.
Porque eu lia três livros ao mesmo tempo, mas esquecia de desligar o gás. Porque eu fazia associações brilhantes entre história, política e literatura… mas chorava de raiva por não conseguir montar um simples currículo no Word. Porque eu respondia perguntas que ninguém tinha feito, mas travava em coisas que todo mundo fazia com facilidade.
E, por muitos anos, achei que era só desorganização. Falta de foco. Falta de vontade. Então eu me exigia mais, me cobrava mais, e me escondia melhor.
Até que um dia, sentada num consultório, depois de meses de angústias mal explicadas, uma profissional me disse: — Simone, tu tens altas habilidades. Tu és superdotada.
E eu... ri. De nervoso. Me deu uma vontade imensa de levantar e sair dali. Como assim superdotada? Eu, que me sinto burra em coisas simples? Eu, que me esqueço de pagar boletos? Eu, que engasgo com e-mails e evito ligações porque minha mente já está ocupada tentando entender os motivos da crise humanitária no Sudão?
Naquela hora, eu não senti orgulho. Eu senti vergonha. E raiva. E um cansaço ancestral.
Porque ninguém me viu antes. Ninguém me explicou que ser “diferente” não era defeito. Porque eu passei a vida toda tentando me adequar ao raso, diminuindo minha voz, fingindo que não sabia tanto — tudo pra não incomodar.
E descobrir que eu era superdotada não me deu alívio. Me deu luto. Luto por tudo o que eu poderia ter vivido se soubesse disso antes. Luto por cada vez que me chamei de burra, por cada choro escondido, por cada momento em que me senti sozinha em rodas onde ninguém via o que eu enxergava.
Eu queria que a escrita me salvasse, como sempre fez. Mas até ela me calou por um tempo. Porque eu tive que reaprender a escrever sem culpa. Reaprender a me escutar. Reaprender a existir sem me podar.
E hoje, eu tô aqui pra te dizer: Ser superdotada não é glamour. É carregar uma mente que não desliga, um coração que sente o mundo todo ao mesmo tempo, e um corpo que vive exausto de tanto segurar o que não consegue explicar.
Mas também é potência. É sensibilidade transformada em linguagem. É ver o invisível. É juntar pontas soltas que ninguém percebe. É estar sozinha muitas vezes, mas nunca rasa.
Por isso, se tu sentes que há algo em ti que ninguém nomeou… escuta. Escuta tua confusão, tua dor, tua lucidez. Talvez tu também sejas uma dessas almas que foram feitas pra sentir demais, saber demais, e só agora estão se permitindo ser.
E se tu fores, que bom. Somos raras. E começamos a nos encontrar.
Obrigada. Simone Carmo Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 15/06/2025
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