... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Eu não sou louca... Eu sou muitas!

Desde pequena, eu precisei entender o mundo pra conseguir ficar em paz dentro dele.

Não era curiosidade. Era sobrevivência.

 

Me dava uma aflição absurda quando alguém falava de um assunto e eu não sabia de onde ele vinha, por que existia, onde se conectava na história. Eu fui essa criança que lia gibi, via jornal, escutava conversa de adulto, ligava as coisas. Até hoje, tudo dentro de mim se conecta com tudo.

 

Enquanto a maioria se satisfaz com o agora, eu sempre fui atravessada pelo antes, pelo depois, pelo “e se?”. Isso não é charme. Não é performance intelectual. É minha mente tentando se acalmar.

 

Não foi fácil entender que essa fome por contexto, essa sede por saber de tudo, não era vaidade… era parte de mim. Era minha forma de não me sentir fora das conversas. Porque eu não queria brilhar, eu só queria pertencer. Estar com todo mundo, ouvir gente idosa, criança, engenheiro, camelô, psicóloga, poeta. Ser ponte. Nunca muro.

 

E aí veio o diagnóstico.

 

Superdotação. TDAH. Uma bomba e uma epifania.

 

E eu pensei: como assim eu sou superdotada se minha cabeça vive se sabotando?

Como assim eu tenho TDAH se eu consigo me aprofundar tanto em tudo?

 

Foi aí que tudo começou a fazer sentido, e a doer.

Porque não é fácil explicar uma mente que teima em ver beleza em tudo, mas não consegue manter uma gaveta arrumada. Uma mente que devora livros e esquece de pagar a conta de luz. Que escreve sobre política internacional e não consegue terminar um e-mail simples.

 

As pessoas chamam isso de “inconstância”. Eu chamo de vida demais pulsando ao mesmo tempo.

 

Nunca gostei de holofotes. Nunca precisei provar que sei. Eu só queria viver num mundo que me entendesse. Ou ao menos… me escutasse.

 

E é por isso que eu escrevo agora. Não pra ser lida. Mas pra me ler.

Pra deixar marcado, em algum lugar, que eu existo desse jeito estranho, bonito, difícil e cheio de voz.

 

Eu não sou louca.

Eu sou feita de tempestade, silêncio e lucidez.

E vou parar de me pedir desculpas por isso.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 15/06/2025
Alterado em 15/06/2025
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