... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


 

Quando o mundo começa a normalizar imagens de corpos infantis soterrados sob escombros ou queimados por bombas inteligentes, não estamos apenas diante de um conflito, estamos diante de uma falência civilizatória.

 

E é exatamente isso que acontece hoje em Gaza.

 

Mais de 50 mil palestinos mortos. A maioria mulheres e crianças. Escolas bombardeadas. Hospitais sem energia. Água escassa. Um cenário tão insuportável que já nem parece real, mas é. E, pior, é deliberado. É estratégico.

 

A História ate aqui...

Voltemos à história: o atual território de Israel foi palco, em 1948, de uma fundação abrupta do Estado judeu, com aval das potências ocidentais pós-Holocausto. Centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas. A chamada Nakba ("catástrofe", em árabe) marca esse momento. Desde então, o povo palestino vive sob ocupação, em condição de segregação, com liberdade e dignidade severamente limitadas.

 

O Hamas, surgido nos anos 1980, é fruto desse cenário. Extremista? Sim. Mas também sintoma de décadas de injustiça, abandono e desespero. E é importante dizer: não se pode resumir Gaza ao Hamas, assim como não se pode reduzir o Brasil ao bolsonarismo ou os EUA ao trumpismo.

 

A resposta de Israel sempre foi desproporcional. E ultimamente, é genocida.

 

Tel Aviv sob ataque; consequência?

Quando o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv, não foi por acaso. Não foi gratuito. Foi reação. É importante dizer: nenhum ataque a civis é justificável, mas é preciso entender o que representa Tel Aviv no contexto israelense. É o coração financeiro, tecnológico, o "mundo moderno" em contraste com os escombros de Gaza.

 

Atacá-la é tentar expor uma ferida que Israel insiste em esconder do próprio povo: a de que a ocupação, o apartheid e o desrespeito à dignidade humana não ficam impunes para sempre.

 

Netanyahu e ideia de guerra como tática de sobrevivência...

 

Benjamin Netanyahu não é apenas o primeiro-ministro de Israel é um sobrevivente político. Acusado de corrupção, acuado por protestos internos, desgastado internacionalmente, ele encontrou na guerra sua salvação.

 

Transformou o Irã e o Hamas em cortinas de fumaça para esconder seu próprio fracasso. E para isso, está disposto a tudo, inclusive a incendiar o Oriente Médio.

 

Seu governo se sustenta no medo, na polarização e na retórica do “inimigo externo”. Funciona como um espelho distorcido de outros líderes autoritários ao redor do mundo: quando a democracia os ameaça, eles criam o caos e se apresentam como única solução possível.

 

Trump e o seu cinismo geopolítico...

A virada mais decisiva nos últimos anos veio com Donald Trump. Em 2018, ele reconheceu Jerusalém como capital de Israel, rompeu o acordo nuclear com o Irã e autorizou ações que romperam décadas de equilíbrio frágil.

 

Trump deu a Netanyahu carta branca para agir sem limites. Consolidou a aliança da extrema-direita internacional e legitimou um modelo de governo baseado em brutalidade e desprezo pelos direitos humanos.

 

O resultado? Gaza virou campo de testes para armas, e a política virou palco para genocídio disfarçado de “defesa nacional”.

 

E o Brasil?

Nosso país, que já foi referência na diplomacia multilateral, hoje parece hesitante. Tenta equilibrar-se entre o repúdio aos crimes cometidos e os acordos econômicos com potências aliadas de Israel. Não se posiciona com firmeza.

 

Durante o governo Bolsonaro, o alinhamento com Netanyahu foi explícito. Já no governo Lula, há uma tentativa de tom conciliador, mas que, diante do massacre, soa fraca. Porque neutralidade, diante de genocídio, não é diplomacia, é covardia.

 

O preço mais alto da omissão global...

Enquanto escrevo estas linhas, crianças morrem. Algumas dormindo. Outras esperando pão. Algumas nos braços dos pais, que já nem têm lágrimas. Elas não entendem o que é “autodefesa”, não sabem o que é Hamas, não sabem quem é Netanyahu. Elas só sabem que têm fome, medo e sede.

 

E o mundo assiste.

Faz pronunciamentos mornos. Reuniões de emergência que não emergem nada. Líderes fingem não ver. O mercado agradece.

 

A guerra é sempre um fracasso. Mas há guerras que não são apenas fracassos são crimes. Gaza é isso. Um crime que o mundo escolheu tolerar. Porque as vítimas são pobres, são árabes, são muçulmanas, são invisíveis.

 

Tel Aviv arde. Teerã ameaça. Mas quem grita, quem suplica, quem sangra são os pequenos corpos de Gaza. E até quando vamos chamar isso de “conflito” quando na verdade é massacre?

 

Não se trata mais de escolher um lado. Se trata de escolher se vamos continuar humanos.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 14/06/2025
Alterado em 14/06/2025
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras