Amar em Carne Viva...

Hoje é Dia dos Namorados

e enquanto as timelines se enchem de declarações meladas eu só penso em quantas vezes eu me desmontei tentando amar

Amar sendo neurodivergente é isso

é viver com a cabeça num ritmo e o coração noutro é tentar traduzir um furacão usando um bilhete de supermercado... é querer se entregar, mas já chegar cansada de se explicar

Durante anos fui chamada de exagerada

de intensa demais, de difícil de lidar e eu acreditei, me moldei,  me calei até adoecer

Só depois de adulta é que vieram os nomes que explicavam tudo que ninguém quis entender... TDAH alta sensibilidade

neurodivergência,  palavras que não me curam, mas me libertam porque agora eu sei que meu sentir não é defeito é estrutura

Dr. Rodrigo Bressan diz que quem tem TDAH não tem déficit de atenção tem excesso de mundo, tem foco pulsante no que ama e um apagão no que não faz sentido... é isso,  não é preguiça...  não é irresponsabilidade! é outra forma de existir

Dra. Ana Beatriz Barbosa fala que a dor de quem é neurodivergente não é só emocional... é física,

é sistêmica,

é viver sem filtro,

é receber o mundo como quem leva tapa onde os outros só sentem vento

E é por isso que amar com essa cabeça é difícil porque qualquer silêncio soa como abandono qualquer crítica vira desamor

qualquer ausência parece castigo

e quando a gente reage, dizem que estamos dramatizando mas o que ninguém vê é que já estamos na ferida antes mesmo de alguém tocar

Já me escondi em relacionamentos que me apagavam porque achava que o problema era meu porque cresci ouvindo que eu era demais demais pra ser suportada demais pra ser escolhida

Mas quer saber? agora eu sei que o problema nunca foi sentir demais

o problema foi ter que me mutilar emocionalmente pra caber num mundo que exige neutralidade emocional como sinal de maturidade

Não vou mais me diminuir pra caber em ninguém não vou mais pedir desculpa por amar com pressa por falar com impulso

por esquecer onde coloquei a chave

mas nunca esquecer um olhar que me feriu

Amar alguém como eu exige presença

exige escuta... exige coragem

e eu não aceito menos que isso

Se não aguentas minha intensidade não tocas na minha alma se não compreendes meu silêncio não mereces minha voz

Hoje eu celebro o amor sim mas o que começa em mim sem culpa sem medo

sem autoabandono

porque se for pra amar que seja com olhos abertos com mãos firmes com peito exposto

e se não for assim eu prefiro continuar livre do que me prender em jaulas emocionais só pra dizer que tenho alguém

Feliz dia do amor real o que liberta e não o que amordaça