![]() Tem gente que acha bonito amar homens frágeis. Que vê nisso uma espécie de generosidade emocional, quase um ato de redenção: “ele precisa de mim”. Mas o que ninguém conta é o custo invisível de sustentar afetos unilaterais. O peso de carregar, sozinha, o emocional de dois. E o mais cruel: a solidão que existe dentro de quem está sempre segurando a onda de alguém que afunda ciclicamente... e te leva junto.
Eu amei um homem frágil por uma década.
Não frágil no sentido poético desses que choram vendo filmes ou falam de constelações. Frágil no sentido mais indigesto: instável, indeciso, autocomplacente. Um homem que, todas as vezes em que o mundo o derrubava, me procurava como quem procura abrigo. Mas que, quando o sol voltava a brilhar, esquecia que eu existia.
Durante muito tempo eu confundi isso com amor. Confundi urgência com intensidade, dependência com vínculo, e a minha capacidade de perdoar com uma virtude. Me vangloriei por entender as feridas dele, por saber escutar o que ninguém escutava. Por “estar ali”, mesmo sem ser escolhida.
Só que, aos poucos, fui me perdendo.
Porque quem ama um homem frágil demais acaba ocupando o lugar que ele nunca amadureceu o suficiente pra ocupar. A gente vira terapeuta, gestora emocional, consultora de crises, ombro, escudo, rede. Só não vira mulher de verdade. Aquela que é olhada, admirada, sustentada também emocionalmente, intelectualmente, espiritualmente. A gente se transforma em função. E função, tu sabe, é facilmente substituída.
O tempo passou. E entre idas e vindas, desligamentos de emprego, perdas, reaparições e agradecimentos mornos, eu comecei a enxergar o padrão. A repetição. O jogo emocional onde eu sempre acabava no mesmo lugar: como apoio. Nunca como destino.
Foi aí que eu escolhi outra coisa: o autoconhecimento.
E não foi bonito. Foi rasgante. Foi olhar pra mim com a mesma compaixão que eu dava a ele. Foi admitir que meu amor pelos frágeis vinha da minha própria necessidade de ser indispensável. Que eu me sentia forte por "aguentar" demais. Que, no fundo, eu me perdia no cuidado com o outro porque nunca tinham me ensinado a me priorizar sem culpa.
Hoje, eu olho pra tudo isso e entendo: amar homens frágeis é perigoso quando tu já carrega tuas próprias rachaduras. Porque ao invés de construir uma ponte, tu vira cimento e o outro atravessa, sem olhar pra trás.
Não, não é egoísmo se escolher. É sobrevivência. É entender que ser amorosa não significa ser mártir. Que empatia não é passaporte para a autodestruição. E que tem um momento em que tu precisa, enfim, deixar cair o que insiste em cair mesmo que seja alguém que tu amou por dez anos.
E se ele cair de novo… que se levante sem ti.
Porque tu também merece alguém que te sustente. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 10/06/2025
Alterado em 11/06/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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