Algumas histórias não terminam. Elas se esgotam...

Não foi falta de amor. Foi falta de cuidado com o amor. Foram anos em que eu me calei por respeito, por medo, por esperança. Dez anos. Dez anos me colocando em pausa sempre que tu precisava de atenção, de colo, de alguém que não julgasse e eu fui tudo isso. Fui casa, fui escudo, fui silêncio.

Mas eu nunca fui escolha.

Tu sempre aparecia quando a vida te desmoronava. Sempre depois de um tombo, de uma demissão, de uma crise. E eu, feito refúgio, sempre ali… mesmo cansada, mesmo com a alma aos cacos, tentando te reerguer enquanto os meus próprios dias ruíam em silêncio. Tu nunca perguntou como eu tava. Nunca quis saber o quanto doía pra mim essa tua ausência seletiva, esse afeto por conveniência.

Eu me viro sozinha há muito tempo. Só que agora, pela primeira vez, eu tô me virando pra mim.

Porque eu cansei de ser teu ponto de apoio quando tu nunca foi meu chão. Cansei de ser lembrada só quando o mundo pesa pra ti, como se eu tivesse a obrigação de segurar tudo de novo, só porque um dia eu amei demais. Só porque um dia eu disse que estaria ali.

E estive. Por longos dez anos, estive. Entre promessas que nunca saíram do papel, entre planos que só existiam quando a tua vida permitia, entre esperas que só eu cumpria. Eu dei todas as chances, mesmo quando ninguém mais entendia por quê. Mas eu sabia: tu também tinha teu peso, tua bagagem, teus traumas. E mesmo assim, eu fiquei.

Só que tem um momento que a gente aprende: ficar demais em quem nunca ficou por inteiro é se abandonar aos poucos.

Hoje tu me procura de novo. De novo, depois de tudo cair. E eu te escuto. Mas algo mudou aqui dentro. Já não sou mais aquela que corre pra juntar teus pedaços, enquanto os meus sangram. Já não tenho essa urgência de te salvar.

Eu ainda me importo, mas agora eu me importo comigo primeiro.

Essa carta nunca vai ser enviada. Porque se fosse, viria resposta. E a resposta seria mais um pedido, mais uma urgência, mais um silêncio sobre mim. E eu, enfim, não tô mais disposta.

Porque amar alguém por dez anos não me fez inteira. Me fez forte. E agora, ser forte significa saber ir embora mesmo com o coração ficando.

...

Se um dia tu te perguntar por que eu não voltei… é porque eu, enfim, voltei pra mim.