![]() O Preço da Falta de Diálogo
Na rotina corporativa, a área de Suprimentos é frequentemente vista como o setor que "compra". Mas por trás desse verbo tão simplificado existe uma engrenagem complexa — e quando essa engrenagem não se conecta com o coração técnico da empresa, os prejuízos vão além do financeiro: afetam o tempo, a qualidade e a credibilidade de toda a operação.
O que acontece quando a área de Suprimentos não entende Engenharia? O resultado é um ruído que atrasa decisões críticas, prejudica entregas e desgasta relações internas. Em empresas cujo core é técnico — mineração, construção pesada, energia — é indispensável que quem compra compreenda não só o valor, mas o contexto técnico do que está comprando.
Processos e SLAs não são apenas burocracia
É comum ver áreas de Suprimentos operando sem SLA definido, sem política clara de retorno, sem régua de atendimento padronizada. Isso impacta diretamente no planejamento da Engenharia, que depende do tempo de resposta e da confiabilidade das entregas.
Sem SLA, tudo vira urgência. Sem processo, tudo vira improviso. Sem clareza, tudo vira ruído.
Quando o comprador ignora a engenharia
Compradores que não sabem consultar uma tabela SINAP, que não entendem a composição de preços de um projeto de infraestrutura, que não sabem diferenciar um serviço de sondagem de uma escavação mecânica, acabam tratando demandas técnicas com superficialidade.
Isso gera retrabalho. Demanda revisão de escopo. E o pior: o cliente interno começa a desacreditar na área de Suprimentos, vendo-a como um "gargalo corporativo" — e não como um parceiro estratégico.
A compra não é fim, é meio
Uma boa aquisição não se mede apenas pelo menor preço. O custo-benefício é mais complexo e envolve:
* Distância do fornecedor (logística e prazos); * Capacidade técnica comprovada; * Garantias e histórico de execução; * Conformidade com normas técnicas e contratuais.
E, para defender tudo isso, o comprador precisa saber argumentar. Precisa saber se posicionar. Precisa, acima de tudo, entender o que está comprando e para quem está comprando.
Um exemplo real: a decisão que quase comprometeu um contrato
Durante a gestão de um contrato de reforma de restaurante, fui surpreendida por um e-mail da área de Suprimentos. Sem alinhamento prévio, comunicaram que o efetivo do meu contrato seria utilizado no final de semana para outra atividade — uma atividade de outra área cliente, fora do meu escopo, não prevista no memorial descritivo da obra.
O contrato era por empreitada. Ou seja, sábados, domingos e feriados estavam alocados às entregas da reforma. Mesmo assim, Suprimentos decidiu, sem consulta, deslocar o time como se fosse algo "normal". Estimulei uma reunião com a área de gestão de contratos, a supervisora e o analista de suprimentos, e a engenheira fiscal do contrato. O que ouvi? Que isso era "a coisa mais comum do mundo". O famoso: "sempre foi assim".
Essa naturalização do improviso expõe um problema maior: a falta de criticidade, de escuta e de entendimento sobre o impacto real dessas decisões. Ninguém me perguntou como estava o cronograma da obra, tampouco respeitaram o fluxo natural de validação técnica.
Essa conduta — repetida em tantos setores — evidencia o quanto ainda operamos no modo automático. Compradores que não devolvem a demanda, que não buscam entender a técnica, que não se posicionam. O resultado? Desentendimento, rivalidade e um ambiente tóxico.
O que o cliente quer não é a proposta comercial. É a técnica
Nós, como clientes internos, queremos saber se o comprador entendeu o memorial descritivo, os riscos, o que o fornecedor precisa saber antes de executar. Queremos ver que o comprador não só buscou o mercado, mas defendeu tecnicamente o que foi solicitado. E quando isso não existe, abre-se espaço para ruídos, conflitos, desgaste de imagem e quebra de confiança.
Conclusão
A área de Suprimentos precisa deixar de ser vista como operacional e assumir seu papel estratégico. Para isso, precisa de processos claros, políticas de SLA transparentes, e principalmente: profissionais que dialoguem com Engenharia com propriedade e respeito técnico.
Porque quem compra sem entender, compromete quem executa. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 08/06/2025
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