... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Bora?!

Era um tempo surpreendente,  como o tempo de antigamente... Onde o sentir não sabia mais o caminho certo pra chegar, mas deseja ir... E ainda assim, chegava... E chegava bonito.

 

Tu vinha com dor… mas uma dor solta, já livre.

E o outro lado vinha leve, depois de ter carregado o mundo por dentro.

Parecia que cada um tinha vivido o inverso do outro…

e que por isso mesmo cabiam.

 

Não teve olho no olho.

Não teve pele com pele.

Não teve aquela conversa que espirra saliva de tão perto.

Mas teve coisa que vai além disso.

Teve palavra escrita no calor do peito.

Teve poesia como bilhete deixado embaixo da porta.

Teve texto que se despia no silêncio.

E vontade — essa teve demais.

 

Começou com cuidado.

Com aquele tipo de carinho que não pede pressa.

Ele escrevia como quem ampara.

Tu respondia como quem já amou e não tem mais medo de mostrar.

E era bonito.

Tão bonito que doía sem machucar.

 

Era coisa antiga, daquelas que parecem ter vindo de outro século.

Tipo amor de Lord Byron, com dor nas rimas e flor nos olhos.

Ou de Álvares de Azevedo, com morte e beleza dançando juntas.

Mas sem tragédia.

Era só um querer bem, mesmo sem saber se um dia o bem ia virar abraço.

 

Ele dizia que queria tua felicidade, mesmo que ela não tivesse o nome dele.

E tu só queria que ele fosse leve, mesmo que a leveza o levasse pra longe.

Era amor sem jaula.

Sem rédea.

Sem exigência de presença.

 

E nessa troca quieta, sem calendário, sem contrato

foram criando um tipo de história que não precisa de final —

só precisa de verdade.

 

Porque quando dois que já se perderam tanto se encontram,

não procuram conto de fadas

procuram paz.

 

E às vezes, paz é só alguém dizendo:

“Te sinto.”

“Bora. Bora lá.”

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 03/06/2025
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