... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Sombra com luz de ring light (alusão à sombra junguiana e à vaidade digital)

Há uma espécie curiosa de homem que se arrasta pelas beiradas dos sites de escrita um animal ensimesmado, ferido de vaidade e cheio de pose. Acha-se um profeta moderno, mas é só mais um narcisista mal alfabetizado, que tenta disfarçar carência com pseudofilosofia de boteco e citações que não leu até o fim.

 

Ele se posta como um semideus caído, com suas palavras suadas e o cenário montado: luz amarela, camisa aberta, o mesmo olhar ensaiado de quem quer parecer intenso... mas só parece carente. Veste pobreza com orgulho, mas pendura no corpo um anel de prata falsa e um colar roubado de alguma cigana imaginária, tudo meticulosamente calculado para parecer acidental. Nada nele é espontâneo. Nem o drama.

 

Ele não escreve... ele se masturba com o próprio reflexo em frases. Confunde adjetivo com identidade. Mulheres? São só adorno, combustível para suas metáforas murchas. Nunca foram pessoas; sempre espelhos. Ele não ama ele consome. Usa o corpo alheio como extensão do seu delírio.

 

Freud o chamaria de caso clássico de compulsão à repetição: vive ensaiando abandonos que ele mesmo provoca, só pra poder escrever sobre o quanto sofre. Nietzsche riria alto, não é um homem que se supera, é um que se repete em ciclos patéticos de autoengano estético. Bukowski teria nojo: “Esse aí nem bebe de verdade. Só finge dor porque sabe que vende.”

 

Jung, se o atendesse, o deixaria no meio do caminho do processo terapêutico. Porque tem gente que não quer se curar. Quer ser olhada sangrando.

 

Esse tipo publica sem parar, como se cada texto fosse uma oferenda no altar da própria irrelevância. Se ninguém comenta, ele comenta embaixo. Se ninguém elogia, ele compartilha de novo desta vez com mais palavras difíceis. Sempre com ares de quem “não liga”, mas ansioso como um cão esperando por migalhas de atenção.

 

Não se engane. Ele quer ser admirado. Quer ser desejado. Quer ser temido. Mas só consegue ser tolerado por quem ainda não percebeu que por trás da pose existe só uma criança narcisista que nunca superou o fato de não ser o centro do mundo.

 

E talvez nunca vá.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 01/06/2025
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras