![]() O sacrifício da repetição...A maior parte dos meus dias se desfaz em nada. Não são lembranças — são ecos. Réplicas estéreis do ontem, pensamentos que não fermentam, atos que não ardem. É um silêncio que não se ouve, mas corrói. Às vezes, fico imóvel... e sinto tristeza. Não daquelas que choram — mas daquelas que escavam.
E então vem a tarde.
No retorno pra casa, olho o céu como se não fosse mais meu. É o mesmo sol, o mesmo gesto de partir, mas cada vez é um outro adeus. Um outro brilho de fim. As nuvens, cúmplices impassíveis, desenham cores que nunca se repetem, ainda que tudo se repita. Isso me fere com ternura.
Sorrio — não de alegria, mas de um entendimento que queima devagar. A vida também é isso: uma mesmice sagrada que muda pelas bordas. As pessoas, os pensamentos, os delírios — eles não impedem a rotina, apenas a colorem, como sangue na água.
E nos dias em que tudo falha e nada muda, ainda assim... há beleza. Porque o sol, mesmo preso no mesmo ciclo, explode o céu em tons inéditos. E isso me basta.
Porque às vezes viver é isso: um sacrifício sem espetáculo. Uma entrega sem plateia. Um espasmo de beleza no abismo da repetição. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/05/2025
Alterado em 28/05/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
|