... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Enquanto você ri do outro, o que cresce em você é só amargura

Tem gente que parece carregar uma dívida invisível com a vida. Anda amarga, como se o mundo estivesse em débito eterno com suas frustrações. É o tipo de pessoa que se contorce diante da felicidade alheia — e nem precisa ser algo grandioso. Basta alguém mostrar uma pequena conquista, um sorriso verdadeiro, um avanço qualquer... que logo surge o deboche, o julgamento, a tentativa de desmerecer o que o outro construiu.

 

Aprendi com Jung que aquilo que mais nos fere no outro, geralmente, tem raízes dentro da gente. É a tal da sombra — tudo o que reprimimos, negamos, mas que continua ali, nos moldando por dentro. E é justamente essa parte que, não tendo sido vista, explode em forma de crítica, ironia, ou em silêncio cheio de desprezo.

 

É mais fácil zombar do sucesso de alguém do que admitir o próprio medo de tentar. É mais simples dizer que foi "sorte" do que encarar os anos que se passaram sem coragem de mudar de rota. A amargura se veste de piada, a inveja se disfarça de opinião sincera. E vira um ciclo — onde todo mundo se sabota, mas ninguém assume.

 

Durante um bom tempo, eu acreditei que as pessoas torciam umas pelas outras. Que a vitória de um era caminho aberto pro outro também passar. Mas fui entendendo que nem todo mundo quer crescer junto. Tem gente que vive a vida como se fosse um jogo de soma zero: se o outro ganha, eu perco. Se ele brilha, eu apago.

 

Mas a vida não é palco com luz limitada. Não é corrida onde só um chega. Cada conquista é também um convite: "olha, é possível". Mas pra aceitar esse convite, a gente precisa primeiro parar de ver rival em todo canto... e começar a olhar pra dentro.

 

Porque enquanto a tua energia estiver toda voltada pra diminuir o outro, o que vai crescer — e crescer muito — é essa sombra que te consome, sem que você perceba. E um dia, sem notar, vai perceber que o que você mais cultivou... foi ressentimento.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/05/2025
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