O peso invisível de parecer bem

tem dias que eu ando no meio da rua e sinto que tô ali só por obrigação… só porque o mundo gira e eu não posso parar… mas a verdade é que meu peito anda cheio de vazios… e por mais que eu tente, não me acostumo com isso…

me disseram que o tempo ensina… que tudo vira costume… que a dor uma hora se acomoda num canto e deixa a gente seguir… mas não foi o que aconteceu comigo… essa dor… essa falta de sentido… ela só muda de roupa… aprende a disfarçar melhor…

eu finjo bem… sorrio no tempo certo… entrego o que me pedem… bato metas com o coração esfarelado… e ninguém nota… ninguém nunca nota… porque aprendi a não desmoronar em público…

Byung-Chul Han fala que a gente vive numa era em que todo mundo tem que ser forte… feliz… produtivo… sempre em alta performance… como se o fracasso fosse culpa… e o cansaço… preguiça… ninguém quer saber se tá doendo… só querem saber se vc entregou…

e eu entrego… mesmo que isso me custe mais do que eu deveria… mesmo que meu corpo implore por pausa… por colo… por silêncio…

às vezes, no meio do caminho pro trabalho… meus olhos enchem d’água… e eu nem sei direito por quê… é como se tudo transbordasse de repente… como se aquele grito preso resolvesse aparecer… mas eu engulo… sempre engulo…

porque parar… parece que não dá mais… e sentir… virou artigo de luxo…

e eu queria dizer que tô bem… mas não tô…

e mesmo assim… sigo…

porque a gente aprende a andar… mesmo com o coração em pedaços…

e isso… talvez seja o que mais dói…