... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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A gente — geração X — aprendeu errado. Aprendeu que amar era aguentar. Que relacionamento era sacrifício, que ficar sozinha era fracasso, que um casamento durando trinta anos era prova de sucesso (mesmo que tivesse dor, solidão, traição e silêncio no meio). A gente cresceu vendo nossas mães se anularem, servirem, adoecerem. E achou que isso era normal.

 

Aí veio essa geração nova, a tal Geração Z, e começou a falar em boy sober. A princípio, parece piada. Depois, vc escuta melhor… e percebe que não é sobre rejeitar homens — é sobre parar. É sobre dar um tempo. Não pra punir o outro, mas pra voltar pra si. Uma pausa pra desintoxicar do que a gente normalizou como amor, mas que era carência, medo, apego ou obrigação.

 

E dói dizer isso. Dói porque a gente passou metade da vida tentando se encaixar num script que não era nosso. Fomos criadas pra dar conta de tudo e ainda sorrir, enquanto eles nos diziam que a gente era “difícil demais” ou “intensa demais”. E a gente acreditou. Engoliu. Silenciou.

 

Hoje, essas meninas tão dizendo “não”. Estão escolhendo ficar sozinhas por um tempo. Estão dizendo: “Prefiro minha própria companhia do que mais uma história que me machuca.” E olha, isso é revolucionário. Isso não é egoísmo. Isso é um grito que a gente não teve coragem de dar.

 

A filósofa Valeska Zanello, referência nos estudos sobre saúde mental e gênero, escreve no livro Psicologia e Gênero: Representações Sociais e Relações de Poder que as mulheres foram historicamente ensinadas a buscar validação emocional através do amor masculino. E que, por isso, muitas vivem relações que nem sequer desejam — mas permanecem por medo de não serem amadas.

 

O boy sober é uma resposta a isso. Não é celibato. Não é ódio aos homens. É só uma forma de respirar. É o nome bonito que deram pro que nossas mães talvez nunca tiveram o direito de fazer: parar. Escolher. Rever.

 

A gente ainda tá tentando desaprender. Ainda confunde abandono com liberdade. Ainda acha que só é válida se alguém quiser ficar. Mas talvez, só talvez, seja hora da gente também se dar essa pausa. Mesmo que seja tarde. Mesmo que doa.

 

Porque tem algo muito errado numa cultura que ensina mulher a amar o outro antes de amar a si mesma.

 

E sinceramente? Se amar for isso que ensinaram pra gente, então talvez seja melhor mesmo ficar só por um tempo.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 25/05/2025
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