... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


Foi numa tarde qualquer,

dessas em que o sol se deita devagar,

que ela abriu a porta —

e ele entrou inteiro.

 

Ela, cheia primaveras cruas,

cabelo curto como uma menina

que já entendeu o peso da leveza.

Olhos de boneca que não se quebrou,

boca que sabia onde doer.

Ele, ainda nos anos dourados 

mas com urgência no olhar

tatuado de fome,

músculos que falavam antes das mãos,

e o cheiro…

ah, o cheiro…

ainda estava nele

antes mesmo de se tocar.

 

Não foi pressa —

foi decisão.

E quando os corpos disseram sim,

nenhuma regra sobreviveu.

 

Com proteção, ele a atravessou primeiro.

Com respeito, com o ritmo

de quem aprende e ensina no mesmo compasso.

Mas o desejo…

o desejo tem dentes.

E ela queria mais —

queria pele, queria suor nu,

queria sentir o gozo sem tradução.

 

Sem armaduras, ele a possuiu de novo.

A carne fez barulho.

Ela tremia de dentro,

gemia grave, aberta, líquida.

Ele mergulhou até o fim,

até o grito, até o gozo quente

que escorreu como prece profana.

 

Ela arqueou.

Ele gemeu seu nome com a garganta rasgada.

A tarde inteira tremeu com eles.

E o mundo…

o mundo ficou do lado de fora.

 

Depois, o silêncio não foi culpa.

Foi sagrado.

Foi corpo colado,

pernas entrelaçadas,

e aquele sorriso suado

de quem não se arrepende de nada.

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/05/2025
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