![]() O elogio ao silêncio inconveniente...Há um tipo de profissional que não se encaixa no molde da sala de descompressão. Ele não brilha no happy hour, não sorri com facilidade para chefes inseguros e não participa das comissões que servem apenas para legitimar decisões já tomadas. Ele não é o mais popular. Mas é o mais competente. E, quase sempre, o mais esquecido nos ciclos de reconhecimento. Esse é o profissional silencioso. Não o submisso — mas o estrategicamente calado. O que prioriza a entrega antes da autopromoção. O que pensa mais do que acena. O que escreve relatórios em vez de participar de rodas de bajulação.
E é por isso que ele incomoda tanto.
A Confusão entre Carisma e Competência Carl Jung dizia que “aquilo que negamos nos submete; aquilo que aceitamos nos transforma.” Mas o que ocorre quando um ambiente corporativo nega o valor da entrega silenciosa e se curva diante de quem sabe socializar melhor do que resolver? A empresa se transforma, sim — mas em um teatro. Onde o carismático avança na cadeia de sucessão e o competente se torna um risco, uma ameaça. Afinal, ele revela, por contraste, a fragilidade dos que performam. Peter Drucker, o pai da administração moderna, já alertava: "A cultura come a estratégia no café da manhã." E eu acrescentaria: e o comportamento esperado engole a autenticidade no almoço.
A Violência da Sociabilidade Obrigatória Byung-Chul Han, filósofo contemporâneo, denuncia a “positividade tóxica” do mundo atual — onde todos devem sorrir, ser felizes, sociáveis, colaborativos. O sujeito que recusa isso é logo etiquetado:
não é “fit”,não tem “espírito de equipe”,não está “alinhado aos valores”.
A verdade? Ele só está inteiro. Mas empresas ainda preferem quem participa da dinâmica do abraço corporativo do que quem resolve a dor estrutural do negócio. E isso tem consequência.
Na sucessão, esse sujeito não avança. No feedback, ele não é promovido. Na crise, ele é descartado. E o ciclo se repete, alimentando uma cultura de mediocridade adornada por carisma.
Nietzsche e o Antídoto da Autenticidade Nietzsche disse que “o indivíduo tem de ser algo que se constrói apesar da manada”. E é isso que o profissional silencioso faz: constrói-se à revelia dos teatros de afeto que tomam conta das corporações. Ele prefere ser íntegro a ser integrado.
E justamente por isso, deve ser valorizado. O problema? RHs ainda confundem competência com docilidade. Líderes ainda acham que evolução na carreira tem a ver com “comportamento padrão” — como se ousadia silenciosa fosse sinônimo de desajuste. É uma distorção que compromete o futuro da própria empresa. Porque talento sem palco vira ausência. E ausência, quando forçada, vira desligamento. E quando isso acontece, o sistema acha que venceu. Mas apenas empurrou o talento pra onde ele será respeitado.
O Feedback que Ninguém Tem Coragem de Dar Quando um profissional é avisado de que “precisa ser mais político”, “precisa se enturmar mais”,
o que estão dizendo, na verdade, é: "Você me incomoda por ser inteiro. Preciso que você performe para que eu me sinta seguro ao seu lado."
Esse não é um feedback de evolução. É uma exigência de submissão disfarçada. Nenhum psicólogo sério recomendaria a repressão da autenticidade como caminho para o crescimento. E nenhum filósofo legítimo colocaria a máscara acima da verdade.
Conclusão: A Hora do Silêncio se Levantar Empresas que confundem bajulação com alinhamento, e silêncio com falta de engajamento, estão podando as mentes que mais poderiam revolucioná-las.
A sucessão deve ser sobre entrega, profundidade, consistência. A movimentação de faixa deve considerar quem resolve, não quem dança. E a demissão nunca deveria ser o destino de quem não aplaude a mediocridade.
O mundo não precisa de mais gente simpática; precisa de gente real. De gente que incomoda com competência. E se for pra ter um feedback verdadeiro, que ele seja:
"Continue sendo você. Mesmo quando o mundo só valoriza quem sorri demais." Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/05/2025
Alterado em 24/05/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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