Eu te desejo no cheiro do mar e do pão quente

Eu te desejo

no perfume salgado

do mar aberto,

Na fome

que o cheiro do pão quente

desperta.

Te desejo por cada silêncio

Que te engoli

com os olhos ávidos...

Por cada estação

que não queimou

minha pele.

Te desejo

na neve que derrete devagar,

Nos primeiros brotos

que se abrem como lábios.

Nos animais

que ainda não aprenderam o medo...

Te desejo,

como se fosse meu primeiro instinto.

Te desejo por todos as que não desejei,

Por tudo o que não vivi...

És o espelho que me mostra

mais do que eu suportaria ver...

Sem ti, meu corpo é um intervalo

seco entre passado e agora.

Te desejo como quem atravessa

suas próprias ruínas,

Silencioso,

depois de tantas mortes caladas.

Aprendi o que é a vida,

palavra por palavra...

Como se aprende a esquecer

com a ponta dos dedos.

Te desejo

na tua lucidez que me despista,

Na tua saúde

que exala pelo calor da tua pele.

Te desejo

contra tudo que nos distrai

da verdade...

Por esse teu coração indomável,

que nunca será meu.

Tu achas que és dúvida,

mas tua boca é pura certeza.

És o sol que me embriaga

quando me acho sóbria...

A maré que me invade

quando finjo estar no controle.

E é por isso que te desejo!

Com o corpo, com o silêncio...

Com tudo o que em mim ainda pulsa,

sem nome!