Nem sempre o problema veste crachá de gerente. Nem sempre a toxicidade escorre da sala envidraçada do andar de cima.

Às vezes, ela está no café que esfria enquanto dois colegas cochicham. Está no “bom dia” que não retorna, na planilha “sem querer” corrompida, na piada disfarçada que rotula, no elogio entalado porque “não é do nosso grupo”.

É fácil colocar a culpa na liderança é até confortável. A gente aponta o dedo pra cima, reclama da falta de reconhecimento, do excesso de cobrança, da ausência de escuta. Mas e quando há escuta? E quando o líder é presente, justo, humano... e mesmo assim nada muda?

É aí que entra o que poucos têm coragem de nomear: a sabotagem entre iguais. O coleguismo hostil, a irmandade falsa que abraça com um braço e empurra com o outro. Painéis bonitos na parede, metas claras, líderes treinados... e no meio disso tudo, um ambiente que respira competição travestida de colaboração. Onde o mérito incomoda mais do que o erro.

Eu já vi bons profissionais pedirem demissão sem nunca terem tido um conflito com a gestão. Saíram por exaustão de tentar trabalhar onde ser bom incomoda. Onde crescer significa ser excluído. Onde sugerir é ser chamado de puxa-saco. Onde o silêncio é mais seguro que a verdade.

Sabe o que me assusta?

É que esse tipo de ambiente adoece aos poucos. Não vem com gritos, mas com suspiros contidos. Não demite, mas empurra devagar. E, no final, a empresa perde... e nem percebe de onde veio o rombo.

Está na hora de parar de romantizar a liderança como vilã universal. Às vezes, o buraco é mais embaixo... Bem ali, no intervalo do café, nas conversas privadas, nos olhares de canto de olho.

Porque o que paralisa uma empresa, muitas vezes, não é a ausência de comando... É a presença constante de pequenas sabotagens, enfeitadas de coleguismo e disfarçadas de rotina.