![]() Em muitas empresas, principalmente aquelas com raízes locais ou estruturas familiares, o que chamam de “bom clima” é, na verdade, uma blindagem emocional contra qualquer tentativa de profissionalizar. A afetividade — que deveria humanizar — acaba sendo usada como escudo contra qualquer olhar crítico.
Não se pode cobrar, não se pode questionar, não se pode sugerir... porque qualquer movimento nesse sentido vira “falta de empatia” ou “falta de tato”. Mas o que essa cultura emocionada realmente esconde é medo: medo de mudar, de sair da zona de conforto, de perder o controle.
Como diria Pepe Mujica: “A lealdade vale mais que a competência para os medíocres. Para os que querem crescer, é o contrário.”
Aqui, muitas vezes, vence quem é “de confiança” — não quem entrega. Ganha espaço quem se adapta ao jogo político, não quem propõe melhorias. E quem insiste em processos, métricas, indicadores e critérios é taxado como “frio”... como se cuidar de um time fosse apenas passar a mão na cabeça.
Só que não é. W. Edwards Deming já dizia: “Sem dados, você é apenas mais uma pessoa com opinião.”
Processos bem definidos não engessam — eles protegem. Um checklist não é um capricho. É segurança, transparência, e respeito pelo coletivo. E a cultura que recusa isso em nome do “afeto” está, na verdade, mascarando sua resistência ao crescimento.
Byung-Chul Han, filósofo que analisa o esgotamento das sociedades modernas, traz um alerta preciso: “A positividade excessiva enfraquece a crítica.” A cultura emocionada transforma qualquer tentativa de mudança em uma ameaça pessoal. E silencia, aos poucos, todos aqueles que ainda se importam o suficiente para questionar.
O mais perigoso nisso tudo é o silêncio... O medo de parecer “difícil”, o receio de se indispor, a conveniência de não mexer com o que está “funcionando” — mesmo que esteja claramente falho.
Simone de Beauvoir dizia: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”
E no ambiente corporativo, os cúmplices são aqueles que veem a falha e preferem não falar. Que enxergam o desvio e seguem calados. Que escolhem o conforto do grupo.
A história da segurança do trabalho está repleta de tragédias anunciadas — acidentes que poderiam ser evitados, falhas técnicas ignoradas por conveniência, decisões políticas mascaradas de afeto. Brumadinho, P-36, Mariana... O custo do silêncio é pago em vidas, em corpos, em tragédias.
Peter Drucker avisou, muito antes disso tudo: “A cultura devora a estratégia no café da manhã.”
E se essa cultura for baseada em afetos seletivos, relações pessoais e medo de mudança, o resultado é previsível: nenhuma estratégia sobrevive.
Conclusão A empatia real não silencia. Não passa pano. Ela cuida com responsabilidade, cobra com respeito, e transforma desconforto em aprendizado.
Michel Foucault nos lembra: “Onde há poder, há resistência.”
Pois que sejamos, então, essa resistência... A que fala, propõe, cobra, organiza, e entende que o verdadeiro afeto se manifesta também em entregar o melhor — por nós, pela equipe e pela empresa.
Empatia não é omissão. Cuidar é também cobrar.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 17/05/2025
Alterado em 17/05/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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