nem sempre é a minha mão

que move as coisas

às vezes os planos mudam

de forma no escuro

às vezes o mundo tropeça

antes de me alcançar

tem dias em que o que eu espero

não vem...

e o que eu temo... chega perto demais

sem aviso, sem piedade

e mesmo assim — alguma coisa em mim permanece é tênue, mas segura

feito voz que reconheço no escuro

feito luz atravessando a fresta do quarto

mesmo quando tudo aqui dentro é sombra

eu não sei o que vêm depois

ninguém sabe

mas eu sei quando a beleza encosta

quando o riso escapa no meio do caos

quando um olhar me atravessa

sem dizer nada,

quando a tarde termina

com um silêncio bom de ouvir

a felicidade — eu aprendi

não se corre atrás

ela chega, quando quer

despretensiosa

no meio da bagunça

e quando ela vier

quero estar inteira... sem distração

quero sentir sem pressa

quero tocar com calma

e deixar que, por um instante,

ela me lembre

que mesmo sem ter o controle de nada

a vida ainda guarda poesia

pra quem não desistiu de sentir.