... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


As referências que te amarram

( Sobre relacionamentos frágeis e inseguros )

 

A gente aprendeu errado.

Aprendeu que se o outro some, é porque fez certo — e que se aparece demais, deve estar carente, querendo demais, pedindo demais. Aprendemos que amor bonito é aquele que nunca foi dito. Que relações não assumidas doem, mas a gente tolera... porque é o que tem pra hoje.

 

Nos ensinaram a achar charme no que nos machuca. A manter vínculos que se escondem no horário comercial, amores que não podem ser vistos nem nomeados, sentimentos que só existem nas entrelinhas de uma conversa no carro.

 

Relações que duram anos e não existem — porque ele é casado, ou ela tem outra vida onde você nunca entra. E você fica lá, naquela promessa disfarçada de liberdade, chamando migalha de banquete e silêncio de conexão.

 

Tem também o romance relâmpago dos aplicativos: um match que vira febre de dois dias, três nudes, uma transa, e depois o famoso “tô sem tempo”.

Você ri, finge que está tudo bem, até porque já devia saber que era só pra “se distrair”. Mas no fundo queria um pouco mais. Queria talvez ser visto — não só com desejo, mas com cuidado.

 

E há os PA's...

Ah, os PA’s.

Essas relações que resistem aos anos, aos namoros que cada um teve no meio do caminho, às promessas de “agora vai”.

E nunca vai. Mas também nunca some.

Fica ali, orbitando tua vida como um satélite do que poderia ter sido, te oferecendo corpo, mas nunca colo.

Presença, mas nunca projeto.

 

E você aceita, porque no fundo aprendeu que pedir mais é carência — e carência é fraqueza.

 

A gente vai acumulando isso tudo e chamando de experiência.

Mas o que é que você tem chamado de amor?

Essa soma de ausências?

Essa espera que nunca se cumpre?

Essa fantasia que você mesmo alimenta com afeto reciclado?

 

O problema não é o outro.

É a tua referência.

É o padrão que se formou ali, entre a culpa e o silêncio, entre os “não posso agora” e os “um dia talvez”.

Você começa a achar que amar é não ser prioridade. Que amar é aguentar. Que amar é ser útil.

Mas não é.

Amar é ser visto. É ser escolhido. É ser possível.

 

E sim, pode ser que hoje apareça alguém pronto pra tudo aquilo que você sonha.

Mas se você ainda estiver preso ao espelho das tuas ausências, vai achar que é demais.

Vai sabotar.

Vai fugir.

Vai chamar de pressão aquilo que sempre foi cuidado.

 

Porque às vezes… o amor chegou.

E você não soube dizer: fica.

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 10/05/2025
Alterado em 12/05/2025
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