![]() “O Poder do Silêncio (Eckhart Tolle) ” — Entre o eco e a pausa
Tem livros que nos convencem. Outros nos provocam. E alguns, mais raros, apenas se oferecem em silêncio — como quem diz: fique à vontade para não me entender agora. Eckhart Tolle, nesse título tão delicado quanto direto, não escreve para entreter nem para provar nada. Escreve para parar. Para calar. E isso, num mundo movido por estímulos e urgências, já é um ato quase político.
“O Poder do Silêncio” tem a ambição de ser simples — e talvez aí esteja sua força e também sua limitação. O livro se apresenta como um mapa para quem deseja abandonar o excesso de pensamento e reconectar-se com uma presença mais pura, mais inteira, mais viva. Tolle defende, com insistência e ternura, que o sofrimento humano nasce do apego à mente, à ideia de ego, à crença de que somos o que pensamos. E que só há paz real quando voltamos ao agora. Até aqui, tudo parece óbvio. E, no entanto, a maioria de nós ainda vive no piloto automático.
Ler Tolle é, em muitos momentos, como conversar com alguém que não tem pressa, não grita e não quer convencer. Ele não nos exige crença, nem nos oferece respostas. Ele apenas aponta para o que sempre esteve ali — o agora. E isso, para quem está cansado de teorias e diagnósticos, pode ser um alívio.
Mas... e os limites?
Sim, eles existem — e precisam ser ditos. Tolle fala de aceitação, mas pouco fala de ação. Fala de entrega, mas silencia quando o assunto é injustiça social, desigualdade ou violência. Em algumas passagens, o discurso pode soar conivente demais com a dor, como se bastasse aceitar para que a realidade se transformasse. Não é assim. Às vezes é preciso gritar, denunciar, resistir. E isso não nos faz menos espirituais. Nos faz inteiros.
Também é preciso maturidade para não interpretar mal o que ele propõe. O silêncio interior não é passividade. A presença não é conformismo. E o agora não deve ser desculpa para ignorar o que precisa ser transformado.
Apesar disso — ou justamente por isso — o livro tem seu valor. Ele não ensina nada novo. Mas talvez seja essa a beleza: lembrar o que a gente já sabia antes do barulho começar. É como uma vela acesa num canto da sala. Não ilumina tudo. Mas muda o jeito como olhamos as sombras.
Indico “O Poder do Silêncio” com algumas ressalvas e um convite: leia quando o coração estiver inquieto, mas também quando estiver pronto para escutar sem pressa. E não espere grandes teorias — espere presença. Talvez não mude sua vida. Mas mude seu instante. E isso, às vezes, é o suficiente. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 10/05/2025
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