... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Cartas que nunca vou te enviar: Não era sermão, era eu tentando ser vista

 

Você dizia que eu só sabia dar sermão.

Que eu só sabia te cobrar.

Que eu não sabia acolher, que eu falava demais, que eu reclamava demais.

Mas quer saber?

Eu só tentava te alcançar.

Eu só tentava fazer com que você me ouvisse.

E você, covardemente, escolhia se defender do que era verdade dizendo que eu “pegava no seu pé”.

 

Não era sermão,

Era a minha tentativa de salvar algo que você deixava morrer todo dia.

 

Você achava que me mandar um vídeo sem contexto, um áudio sem direção, era o suficiente.

Você me dava o pouco — e ainda queria que eu agradecesse.

Nunca perguntou se eu gostava assim.

Nunca perguntou se eu precisava de mais.

Você só entregava o que te sobrava.

E se eu não sorria por isso, virava bronca.

 

O problema é que agora eu entendi:

Você nunca me viu como alguém que merecia presença.

Você me tratava como quem devia aceitar o que tinha e calar a boca.

E eu tentei. Tentei me encaixar, tentei não parecer exigente, tentei ser leve.

 

Mas leveza que pesa no peito não é leveza. É omissão.

 

Agora, eu não te dou mais sermão.

Te dou silêncio.

Não o seu, esse frio e egoísta.

Mas o meu. O que nasce quando a gente entende que não adianta falar com quem só escuta o próprio eco.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 30/04/2025
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