![]() A Fé em Exibição: O Silêncio Profanado pela Vaidade Digital
Não é raiva. É um lamento. Não é inveja. É um desconcerto diante de uma inversão de valores. A fé, que sempre foi um sussurro íntimo entre a alma e o divino, hoje se tornou um espetáculo vazio. Uma performance em que cada gota de chuva, cada calo no pé, cada passo dado é meticulosamente exibido para a plateia digital.
Cioran falava da arrogância da oração, mas o que diria ele sobre a arrogância da fé exibida? Não é mais sobre buscar Deus, mas sobre buscar aplausos. Não é mais sobre encontrar paz interior, mas sobre colecionar curtidas.
O que vemos hoje é uma confusão de papéis: profissionais que misturam trabalho e fé, transformando o sagrado em mercadoria. Quando a vida real acontece e o silêncio seria a resposta mais genuína, o que se vê é apenas a ausência de uma postagem simples, porque não há público para a verdadeira fé silenciosa.
Que tipo de fé é essa, que precisa de plateia? Que tipo de pais e mães são esses, que expõem a intimidade dos filhos em nome de uma espiritualidade vazia? Não é fé. É vaidade disfarçada de virtude. É a profanação do sagrado pelo espetáculo.
Cioran dizia que a verdadeira humildade não se ajoelha em templos, mas se recolhe na própria sombra. E nós, hoje, precisamos resgatar esse silêncio. Precisamos lembrar que a verdadeira fé é vivida no corpo, no íntimo, e não precisa de testemunhas.
Que esse texto seja um convite à reflexão: a fé não é um show. A humildade não é uma hashtag. E o sagrado, se ainda existir, habita onde não há câmeras, onde não há aplausos, onde o silêncio ainda é a linguagem mais pura. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/04/2025
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