... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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A Verdade Moldada

 

Há algo inquietante em observar como certas pessoas manejam a verdade: como se fosse barro fresco entre os dedos, moldando-a para caber em suas intenções e desejos mais íntimos.

 

No começo, quase ninguém percebe. A fala é firme, a transparência parece genuína, o sorriso é cálido. Em qualquer ambiente — seja profissional, social ou pessoal — essa habilidade pode ser tanto uma arma quanto uma tragédia silenciosa.

 

A manipulação sutil da verdade não grita.

Ela sussurra.

Não confronta. Sugere.

Não impõe. Conduz.

 

É assim que projetos frágeis são aprovados, decisões equivocadas se disfarçam de boas estratégias, relações de confiança são lentamente corroídas.

Tudo isso em nome de uma "verdade parcial", construída a partir de fragmentos convenientes — onde o compromisso genuíno se perde no jogo de aparências.

 

E o mais perigoso?

É que muitas vezes quem molda a verdade acredita sinceramente estar fazendo o certo.

A mente que se acostuma a vencer pela distorção, com o tempo, já não distingue o que é ética do que é conveniência.

 

Numa cultura onde o imediatismo é exaltado e a autenticidade é tratada como vulnerabilidade, a verdade crua se torna incômoda.

Requer coragem.

Requer caráter.

 

Talvez, no final das contas, o maior desafio para qualquer líder, gestor ou ser humano comum, não seja apenas ser honesto.

É resistir à tentação silenciosa de moldar a realidade para que ela pareça mais confortável... mais aceitável... mais palatável.

 

Num tempo em que até a verdade pode ser polida para ser mais vendável,

a bravura de falar o que precisa ser dito — ainda que custe o aplauso — seguirá sendo o verdadeiro gesto de integridade.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/04/2025
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