![]() A Verdade Moldada
Há algo inquietante em observar como certas pessoas manejam a verdade: como se fosse barro fresco entre os dedos, moldando-a para caber em suas intenções e desejos mais íntimos.
No começo, quase ninguém percebe. A fala é firme, a transparência parece genuína, o sorriso é cálido. Em qualquer ambiente — seja profissional, social ou pessoal — essa habilidade pode ser tanto uma arma quanto uma tragédia silenciosa.
A manipulação sutil da verdade não grita. Ela sussurra. Não confronta. Sugere. Não impõe. Conduz.
É assim que projetos frágeis são aprovados, decisões equivocadas se disfarçam de boas estratégias, relações de confiança são lentamente corroídas. Tudo isso em nome de uma "verdade parcial", construída a partir de fragmentos convenientes — onde o compromisso genuíno se perde no jogo de aparências.
E o mais perigoso? É que muitas vezes quem molda a verdade acredita sinceramente estar fazendo o certo. A mente que se acostuma a vencer pela distorção, com o tempo, já não distingue o que é ética do que é conveniência.
Numa cultura onde o imediatismo é exaltado e a autenticidade é tratada como vulnerabilidade, a verdade crua se torna incômoda. Requer coragem. Requer caráter.
Talvez, no final das contas, o maior desafio para qualquer líder, gestor ou ser humano comum, não seja apenas ser honesto. É resistir à tentação silenciosa de moldar a realidade para que ela pareça mais confortável... mais aceitável... mais palatável.
Num tempo em que até a verdade pode ser polida para ser mais vendável, a bravura de falar o que precisa ser dito — ainda que custe o aplauso — seguirá sendo o verdadeiro gesto de integridade. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 28/04/2025
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