Carta para o silêncio que eu escolhi

Hoje, eu tremi.

Hoje, eu ardi.

Hoje, eu fui embora sem gritar, sem bater a porta, sem precisar provar nada pra ninguém.

Kierkegaard dizia que a angústia é a vertigem da liberdade. E é isso mesmo que eu sinto agora — um abismo se abrindo sob meus pés... mas também o primeiro passo fora do cárcere de aceitar migalhas.

Você nunca me machucou do jeito clássico, daqueles que a gente pode apontar e dizer "aqui sangrou". Você me machucou de outro jeito: me esquecendo.

Me tratando como uma extensão da sua rotina, como uma pasta de arquivos vazios onde você encaminhava vídeos, áudios, restos.

Você me quis presente... mas nunca de verdade. Nunca com carne, sangue e nome.

Nietzsche dizia que quem tem um porquê enfrenta qualquer como. E eu, até agora, procurava o meu porquê em você — quando, na verdade, o único “porquê” que importava era o meu: me deixar viva.

Meu psiquiatra, entre doses de lucidez e escuta, sempre dizia:

"Se pergunte: essa pessoa te amplia ou te diminui? Essa pessoa te atravessa ou te apaga?"

Hoje, pela primeira vez, eu não precisei da resposta dele.

Eu mesma soube responder.

Eu bloqueei você.

Não porque te odeio.

Não porque quero que sofra.

Mas porque entendi que, entre ser lembrada de vez em quando e ser esquecida todo dia, eu prefiro ser esquecida de vez... e inteira.

Não tem mágoa aqui.

Só esse peso leve do que eu não quero mais carregar.

Só essa liberdade que ainda assusta — mas que, daqui a pouco, vai virar alívio.

Você vai seguir seu caminho.

Eu vou seguir o meu.

Sem encaminhamentos, sem omissões, sem silêncio imposto.

Agora, o silêncio é meu.

É um grito de amor-próprio.

É o espaço limpo onde a minha história vai ser escrita por mim.

E, honestamente, pela primeira vez em muito tempo... Eu não quero mais voltar.