![]() Enquanto todos filmavam, ela sentia...
A cena é simples, mas brutal: uma freira chora, enquanto ao seu redor todos disputam o melhor ângulo. Braços esticados, celulares em punho, dedos tremendo para capturar o cortejo do Papa. Mas ela... ela não quis capturar nada. Ela foi capturada.
Santo Agostinho dizia que “é mais digno o coração que ama do que os olhos que apenas veem”.
E naquele instante, ela não quis ver... quis amar. Não com filtros, não com registro. Mas com a alma nua, entregue, sem o verniz da performance.
Enquanto o mundo inteiro tentava eternizar o momento com um clique, ela eternizava com a carne. Ela se dissolvia no agora. E ali, naquele pranto contido entre o hábito negro e o branco da fé, existia um grito silencioso: a vida está acontecendo aqui, agora, e vocês estão perdendo.
O filósofo Byung-Chul Han fala de uma “sociedade do espetáculo digital”, onde a vivência cede lugar à representação. A freira que chora não representa. Ela não quer audiência. Ela é o próprio altar da emoção — corpo e espírito em presença plena.
Santo Agostinho também dizia: “Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti.”
Talvez seja isso. Enquanto todos buscavam a paz na lembrança, ela buscava repouso no instante. Ela não queria mostrar que esteve lá. Ela queria, de fato, estar.
E foi. Ela esteve. Em meio a mil olhos ocupados em ver, ela foi a única a sentir.
Talvez isso seja santidade: se permitir ser tocado, mesmo quando todos ao redor estão ocupados demais tentando tocar a imagem perfeita. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 24/04/2025
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