![]() Há um momento em que a alma para de pedir aplauso. Ela se recolhe. Não por fraqueza, mas por sabedoria. Como quem entende — de verdade — que a vida não se mede pelo que se acumula, mas pelo que se entrega.
Papa Francisco escreveu seu testamento não como quem dita ordem, mas como quem faz uma última prece em voz baixa. Não pediu catedral de mármore, não quis nome em placa dourada.
Pediu descanso... onde rezava.
Com a simplicidade de quem sabe que o corpo volta à terra, mas o espírito precisa de silêncio para atravessar o invisível.
Foi Santo Agostinho quem disse: “Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti.” Francisco repousou cedo — dentro. Enquanto os olhos do mundo o observavam nos balcões do Vaticano, ele olhava para dentro de si... com medo, com fé, com lucidez. Porque ninguém se sustenta no poder se antes não tiver desmoronado no próprio vazio.
E desmoronar, pra ele, não era falência. Era caminho. Caminho como o de Inácio de Loyola — seu mestre jesuíta — que aprendeu que o discernimento é mais sagrado que o discurso:
“tudo é para a maior glória de Deus”...
inclusive os tropeços, as dúvidas, a solidão dos que carregam o peso dos outros sem jamais pedir que tirem o deles.
Francisco não quis revanche contra os que o odiaram. Pediu bênção aos que o amaram — e aos que ainda rezam por ele, mesmo sem o ver.
É São Francisco de Assis quem sussurra por trás dessa humildade crua. Aquele que falava com as feras e silenciava diante dos homens. Aquele que ensinou que o verdadeiro altar é o chão onde os pés descalços se firmam.
O Papa pediu para ser enterrado onde já havia ajoelhado mil vezes.
Como quem diz: “Não quero ser lembrado por onde sentei. Quero descansar onde aprendi a confiar.”
Essa é a verdadeira herança: não os escritos, não as viagens, não os discursos históricos. Mas o gesto miúdo. A gratidão calada. O corpo simples que se curva diante da eternidade.
E ao final, ele deixa algo mais profundo do que ouro:
a certeza de que a vida, se não for cuidado, não vale medalha...
E que morrer... ...é só um modo de ser semente. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 21/04/2025
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