... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


por alguém que aprendeu a escrever depois que a alma quase morreu calada

 

Outro dia li um texto no Recanto que não me mencionava, mas me descrevia com um zelo quase íntimo. Falava sobre o "perigo" de romantizar o erro gramatical, como se isso fosse um sinal de decadência cultural. E mais: sugeria que, por trás dos textos com alma demais, pode estar escondida a fria mão de uma inteligência artificial.

 

Sorri.

Um sorriso desses que não cabe no rosto — porque guarda história demais.

 

É sempre curioso quando alguém acredita que a força de um texto está apenas nas regras que ele obedece. Como se a crase fosse mais importante que o grito. Como se a concordância verbal valesse mais que a dor de existir num mundo que exige perfeição até da vírgula.

 

Não me interessa agradar gramáticos de ocasião. Interessa-me tocar o outro. E, se possível, escancarar o que Byung-Chul Han chamaria de “a exaustão do sujeito pelo excesso de positividade e desempenho”. Porque é isso: estamos doentes. E muita gente prefere corrigir o português do outro a ouvir sua angústia mal pontuada.

 

Não romantizo erro. Mas não sacralizo a norma. Erro porque estou viva. Escrevo com vísceras. E, às vezes, vísceras não respeitam regência verbal.

 

Nietzsche dizia que a verdade precisa ser dançada. A minha dança, às vezes, tropeça nas palavras. Mas tem ritmo próprio. E não é a IA quem dita isso. Aliás, a IA não conhece o cheiro do medo, nem a textura de um luto atravessado às 3 da manhã. Não escreve depois de engolir o choro pra não preocupar ninguém.

 

A inteligência que me guia não é artificial.

É emocional. É histórica. É suada.

 

Sim, já escrevi “desperta” no singular.

E, sinceramente? Isso não diminui o que me despertou. Acordei pra vida muito antes de ser corrigida por um dicionário.

E sigo acordando... mesmo quando preferem me apagar com ironia sutil e elegância passivo-agressiva.

 

Você pode me chamar de ingênua, de simplista, de imperfeita. Só não diga que sou uma fraude. Porque minhas palavras, tortas ou não, têm identidade.

 

E, como dizia Simone de Beauvoir:

Não se nasce mulher — torna-se.”

 

Assim também é com o texto: não se nasce escritor — torna-se... e tropeça muito até aprender a andar sem pedir desculpas.

 

A gramática nunca me salvou da dor.

Mas escrever... ah, escrever me salvou do silêncio.

 

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O Google tbm diz para quem se intitula "Academica em filosofia, como:"

Acadêmica em filosofia: Pessoa que estuda ou tem formação em filosofia. 

Suposições daquilo que não se sabe, é hilariante..para não dizer Ridículo! 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 20/04/2025
Alterado em 20/04/2025
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