![]() Ressuscitar não é voltar bonitoHoje é domingo. Domingo de ressurreição, dizem...
Dia de lembrar que Jesus voltou! Dia de colocar roupa clara, postar frase bonita no Instagram e desejar que o outro "renasça"... mesmo que a gente mal saiba o que isso quer dizer. Todo ano é a mesma ladainha.
Mas hoje... hoje eu não acordei com vontade de ressurreição de novela.
Hoje eu lembrei que quem morre mesmo — de verdade, sem cena — não volta bonzinho. Porque quem volta da morte, meu bem... Ah, meu bem... Volta indigesto! Com outra fome... Com outros critérios. Com outro olhar.
Essas palavras aqui não têm intenção de distribuir abraço nem de consolar o mundo com frases feitas. Elas vêm de propósito. Vêm lembrar que a dor muda o caminho. Muda o corpo. Muda o tom da voz... Muda o ser — ou pelo menos, deveria. Hahaha...
Jesus, se voltasse hoje, não ia perder tempo explicando nada pra fariseu de feed estético. Não ia sentar na mesa de quem só soube aplaudir a crucificação. Ele ia andar por aí — calado — visitando lugares onde ainda existe gente de verdade... Com sofrimento e sorriso na alma. Com ferida viva, que ainda pulsa, que ainda arde... Ferida que sangra na pele, e não nos likes.
A ressurreição, pra mim, é isso. É quando você volta depois de ter sido esquecida, apagada, cuspida pra fora do palco da vida. É quando você retorna sem precisar avisar. Sem fazer discurso. Sem pedir desculpas por não ter morrido por completo.
Eu já morri. Já fui sepultada por silêncios que nunca me explicaram o motivo. Por gente que torceu o nariz, mas nunca teve coragem de me olhar nos olhos quando eu voltei — mais corajosa, mais viva.
Já me vi no fundo... do fundo. E mesmo sem aleluia, sem pedra rolada, sem multidão gritando "hosana"... eu voltei. Voltei sozinha. Mais seca. Mais direta. Mais perigosa. Mais pulsante. Mais focada. Mais equilibrada. E, sim... mais egoísta. Mais disposta a não alimentar egos que tentam me desqualificar ou me tirar do centro de quem sou.
E sabe o que é mais engraçado? Tem gente que ainda me chama de arrogante. De fria. De sarcástica. De bocuda.
Motivo? Meus posicionamentos. Minhas críticas a quem critica as minhas cicatrizes. Minhas escolhas, meus diagnósticos, meus silêncios — julgados por quem nunca viveu nem uma página do livro que eu escrevo desde 1979.
Gente que adora diminuir os outros, mas nunca valida a história por trás de uma única linha.
Fato é: ninguém pergunta quantas vezes morri. Ninguém quer saber quantas vezes eu gritei pra dentro... e pra fora. Quantas vezes pedi o fim da dor no corpo. Quantas vezes engoli o choro a seco, só pra não incomodar ou evitar aquele olhar de pena.
Ressuscitar no século XXI não é sair do túmulo com a mão pro alto. É voltar em silêncio. É se olhar no espelho com firmeza... E andar por aí sem precisar explicar por que você não é mais a mesma.
Porque, sinceramente...
quem volta igual... é porque ainda não morreu o suficiente.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 20/04/2025
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