![]() “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.” (Lc. 23,46)https://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/3600005 (Vestindo minha publicação de 2012, com o pensamento atual de estudante de Filosófia)
Entregar o espírito hoje… é quase um ato de resistência.
Porque o mundo de agora — esse caos tecnológico, performático, artificial — quer roubar até isso da gente.
A alma virou produto. O cansaço virou meta. A dor virou algoritmo.
Jesus, lá no fim, já sem força, sem sangue, sem nada… ainda teve coragem de entregar o que restava. Não a carne... Mas o que ainda era dEle.
E eu fico pensando... o que sobrou pra gente entregar hoje?
Quando criança tá sendo criada por TikTok, quando a inteligência artificial responde antes da consciência formular a pergunta, quando a guerra se assiste ao vivo com filtro de Instagram e o burnout virou status — como se adoecer fosse parte do crachá…
O que a gente entrega?
Meu texto lá de 2012 falava de véus rasgados, céus escuros, dor da natureza. E hoje? Hoje a natureza não grita mais, ela geme... ela tá exausta, assim, como a gente.
As empresas querem nosso tempo, nosso sono, nossa produtividade… e chamam isso de realização. As igrejas querem nossa culpa, nossa obediência… e chamam isso de fé.
Mas espírito? Isso ninguém quer?! Porque o espírito é livre. E livre assusta.
Bauman diria que vivemos na liquidez absoluta: nada é firme, tudo escorre, até a identidade. Entregar o espírito, nesse mundo, é subversivo. Porque é dizer:
“isso aqui é meu. Isso aqui não se compra. Isso aqui, eu escolho onde repousa.”
E eu escolho. Escolho entregar o que ainda é humano em mim pras mãos que não exigem. Praquilo que não tem nome, nem dogma, nem contrato.
Talvez Harari, todo tecnológico, dissesse que isso é nostalgia... Que estamos virando híbridos, algoritmos de carne.
Mas eu não. Eu sou Simone. E ainda tenho espírito.
E se tiver que entregar… não vai ser pra empresa, nem pro mercado, nem pro pastor influencer que vende céu em três vezes no cartão.
Vai ser pra terra. Pro vento. Pro grito de quem ainda sente.
Pai…
se ainda tiver Pai em algum lugar, toma o que sobrou de mim... mas me guarda inteira... e não em nuvem. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 18/04/2025
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