“Tudo está consumado.” (Jo 19,30)

https://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/3600005

(Vestindo minha publicação de 2012, com pensamento atualde uma estudante de Filosófia)

Não sei explicar bem o porquê… mas essa frase me assusta. Porque ela tem gosto de ponto final, sabe? E eu sempre tive um medo danado de finais.

Jesus olha pro céu e diz que tudo se cumpriu.

Mas… tudo o quê? O plano de salvação? A dor do corpo? A solidão da alma?

Tudo mesmo?

A fé que me ensinaram dizia que aqui é o momento da “vitória espiritual”. Mas hoje… eu não sei se consigo chamar isso de vitória. Parece mais um cansaço.

Um “não aguento mais”. Um fechar de olhos de quem fez o que dava — e não espera mais nada em troca.

Quando escrevi isso em 2012, eu ainda acreditava que era sobre glória…

Hoje eu desconfio que é sobre limite.

Foucault me cutuca aqui dentro. Me lembra que todo discurso sobre “missão cumprida” pode ser só mais um jeito da sociedade silenciar o sofrimento. Porque a gente espiritualiza demais o fim, só pra não ter que encarar o que ele tem de mais cru: a sensação de impotência.

Já Camus, com aquela teimosia dele, sussurra que o absurdo é isso mesmo.

A gente faz o que tem que fazer… sabendo que não vai mudar o mundo.

Mas faz. E nesse fazer sem garantia, talvez more o mais humano de nós.

Eu, Simone, que não acredito mais em céu com portão de ouro nem em juízo final com trono de fogo, penso que “consumar” é diferente de “vencer”.

É aceitar que houve dor. Que houve amor também. Que nem tudo fez sentido — e mesmo assim valeu.

É como quando a gente fecha um ciclo na vida... Não tem trilha sonora... Não tem final feliz... Tem só o silêncio!!!

E o alívio de quem deu tudo que tinha… e agora pode, enfim, soltar...

“Tudo está consumado.”

Não é sobre cruz.

É sobre coragem.