![]() “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34)https://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/3600005 (Vestindo minha publicação de 2012, no pensamento de estudante de Filosófia)
Essa frase é uma das mais violentas já ditas em silêncio. Sim, porque só um silêncio muito fundo poderia sustentar um pedido desse tamanho. Não é perdão qualquer. É perdão pra quem tá matando... pra quem cospe, esculacha, sangra.
Quando eu era mais nova, achava que fé era pedir perdão e prometer não errar de novo. Hoje… eu entendo que fé é caminhar mesmo sabendo que a gente vai cair — e ainda assim ter coragem de olhar pro céu e dizer: não me larga, não.
Santo Agostinho, que também foi sujo, perdido e depois virou “santo”, ia dizer que esse pedido de Jesus é a prova de que a Graça é maior que o merecimento. Ele acreditava que Deus é um tipo de amor que começa antes da gente saber que precisa.
Mas e se eu chamar Nietzsche aqui? O filósofo que anunciou a morte de Deus e apontou o dedo pra hipocrisia da religião? Ele riria dessa frase. Chamaria de teatro moral… diria que é mais um truque pra manter a culpa funcionando como coleira. E talvez ele não esteja totalmente errado.
Porque tem muito perdão que vira controle. Muita cruz usada como palco. Muito Jesus sem Cristo… Muito “Senhor, Senhor” de boca e quase nada de vida.
Mas eu… que não tenho mais banco fixo em nenhuma igreja… eu escuto essa frase e sinto outra coisa. Sinto que Jesus não falou com raiva. Nem com mágoa. Falou com lucidez.
Perdoar quem não sabe o que faz é coisa de quem enxerga mais longe. Mais fundo. Mais humano.
E é por isso que hoje, minha fé mora no mato. Na sombra do ipê. Na água que escorre e não grita, mas lava. Porque ali, sem vitral e sem púlpito, eu consigo dizer com Jesus: Pai… eu também não sabia o que fazia. Mas tô aqui. Se puder, me perdoa.
Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 18/04/2025
Alterado em 18/04/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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