![]() Carta a quem ainda espera permissãoExercício para o curso de Filosofia.
Hoje reli aquela carta de Nietzsche a Peter Gast, onde ele desabafa que tudo o que escreveu era, na verdade, para ele mesmo. Fez sentido. Às vezes, a gente escreve pra sobreviver. E sobreviver exige coragem — ou teimosia.
Tenho pensado muito sobre ambição. Não aquela que vestem de blazer e ensinam nos livros de autoajuda. Mas aquela que corrói por dentro... aquela que te faz sentir inadequada diante do "estável". Que te faz duvidar do elogio quando ele vem do mesmo lugar que tenta te domesticar.
A gente cresce ouvindo que deve esperar. Esperar a hora certa. O diploma. A validação. O aplauso. E aí você percebe, no meio do caminho, que a tal permissão nunca vem. Ninguém vai bater na sua porta e dizer “agora você pode ser tudo o que sente aí dentro”.
Byung-Chul Han fala da sociedade do desempenho. E eu, daqui, olhando meus colegas reproduzindo discursos, sorrindo nos seminários e se moldando às normas, vejo o quanto estamos cansados de fingir. De nos polir pra caber.
Talvez ambição seja isso: não se tratar mais como ensaio. Talvez seja rasgar o script com a coragem de quem sabe que vai doer — e mesmo assim vai. Porque a rotina é confortável, mas também mata. Vai matando devagar, com cafezinhos e promessas. A diferença entre o império e a mediocridade é que o império você constrói com as mãos sujas. E a mediocridade te entrega um crachá e diz “sente aqui, cumpre tua parte”.
Estou cansada de sentar.
Então essa carta — essa crônica disfarçada — é pra quem cansou também. Pra quem ainda espera permissão. Esquece. Ninguém vai te dar. Decide. Anda. E se ninguém entender... paciência. A liberdade, às vezes, é solitária. Mas é só nela que a gente se encontra de verdade.
Com força (e cansaço),
"uma quase filósofa tentando não se dobrar ao conforto do aplauso fácil." Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 15/04/2025
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