![]() O ego venceu o afeto
O amor não desapareceu. Ele foi empurrado pra fora da mesa… foi sendo esquecido nos pequenos gestos. Substituído por discursos bonitos e selfies ensaiadas. A flor virou exagero. A presença virou cobrança. O cuidado, um fardo.
A gente vive tempos em que dizer “isso me faria feliz” soa como chantagem emocional. E ouvir “mas eu não vejo sentido nisso” virou resposta legítima. Só que ninguém fala em sentido quando se trata de sobrevivência emocional. A gente só quer ser visto… notado… lembrado nas entrelinhas, nos detalhes, nos silêncios.
E o que é mais triste — não é a ausência de sentimento. É o excesso de ego. O excesso de justificativas racionais pra não fazer. Como se amar fosse algo que precisa sempre passar pelo filtro da utilidade.
Nietzsche dizia que o amor é a mais perigosa das fraquezas humanas. Talvez porque ele exige entrega. E, numa sociedade narcisista, onde o centro gravitacional é o “eu”, entregar-se virou crime.
Hoje, um "eu te amo" sem atitude é comodismo disfarçado. E se você insiste no gesto, se oferece algo sem esperar troco, é lido como carente, manipulador, romântico demais — ou pior: inconveniente.
A gente ficou onde teve afeto real... e partiu de onde o cuidado virou ruído. Porque o amor não resiste à indiferença. E não sobrevive de promessas não cumpridas. Amor é gesto. É detalhe. É lembrança espontânea. É a mão que segura sem precisar pedir.
O mundo tá tão autossuficiente, que pensar no outro virou quase subversão. Mas talvez ainda exista alguma esperança em quem sente demais. Em quem ainda se incomoda. Porque no fim, como diz o silêncio que sobra, o que sustenta o amor não são as grandes declarações... são os pequenos “eu tô aqui” que não precisam de aplausos — só de verdade. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 14/04/2025
Alterado em 14/04/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
|