![]() O Brasil na presidência do BRICS: entre a vitrine e a ruptura silenciosa
Julho se aproxima e com ele, mais uma vez, a chance de testarmos até onde vai a nossa capacidade de sair da condição periférica sem pedir licença. O Brasil assume a presidência do BRICS num momento em que o mundo todo parece desencaixado — guerras híbridas, rearranjos econômicos silenciosos, e uma disputa cada vez mais evidente entre a hegemonia em declínio dos EUA e a força crescente da China. Nada disso é novidade, mas tudo isso está se acelerando.
E é justamente nesse cenário que o BRICS volta ao centro das conversas. Não só como uma sigla bonita ou uma reunião de cúpula com fotos oficiais. Mas como um bloco com potencial de reordenar parte das estruturas do comércio, da diplomacia e — talvez o mais ambicioso — das finanças globais.
O Brasil, historicamente, carrega no seu discurso internacional essa ideia de multilateralismo. Não por bondade ou por convicção ideológica, mas por necessidade. Sabemos que sozinhos não mudamos nada. Mas articulados, com Índia, China, África do Sul e Rússia, já começamos a incomodar.
E é aqui que entra um ponto central da presidência brasileira este ano: a tentativa de intensificar o debate sobre novos meios de pagamento que não passem obrigatoriamente pelo dólar. Não estamos falando de ruptura violenta — o sistema financeiro global não funciona com rompantes. Estamos falando de construir alternativas reais. Porque a dependência absoluta do dólar já demonstrou suas fragilidades: impõe custos, aumenta vulnerabilidades e, acima de tudo, serve como instrumento político. O dólar também é uma arma.
A China já entendeu isso. Vem há anos diversificando suas reservas, firmando acordos bilaterais em moeda local e até ensaiando a digitalização do yuan em algumas zonas de influência. E o Brasil? Vai continuar sendo só um exportador de grãos e minério de ferro ou vai, de fato, se colocar como protagonista num novo eixo geopolítico?
A presidência do BRICS é uma oportunidade — mas também um teste. A criação de uma moeda digital do bloco, a expansão dos acordos de swap entre bancos centrais, ou mesmo a formalização de um sistema próprio de liquidação financeira são caminhos possíveis. Mas todos exigem coragem política, articulação técnica e, principalmente, visão de longo prazo.
O risco é que tudo vire só discurso. Foto. Cerimônia. E que a chance de mudar alguma coisa real escorra pelo vão dos dedos. O mundo está se reorganizando. A pergunta é: vamos assistir sentados, ou vamos nos colocar à mesa? Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 13/04/2025
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