![]() Crescer pelo Outro
Talvez eu quisesse que ele fosse grande, porque na verdade, era eu quem carregava a fome de crescer. Projetei nele os meus sonhos, desejos e impulsos mais humanos, porque, naquele momento, parecia mais fácil desejar pelo outro do que admitir minha própria ambição. Eu acreditava, ingenuamente, que o meu amor e minha dedicação poderiam dar asas aos sonhos dele, sonhos que, talvez, nunca tenham existido realmente nele—apenas em mim.
Recordo de quando ele perdeu aquela primeira oportunidade. Vi nos olhos dele uma mágoa profunda, como quem sente ter sido roubado do futuro que acreditava merecer. Carregou esse rancor por anos, como se o mundo lhe devesse algo por simplesmente existir. Eu, cega pela paixão, transformei a dor dele na minha própria missão. Fiz currículos, contratei coach, movi céus e terras como se pudesse moldar o destino de alguém pelas minhas próprias mãos.
Mas há uma verdade dura nessa história: ninguém pode crescer por outra pessoa. Ele subiu, degrau após degrau, movido por circunstâncias que, ironicamente, ajudei a criar. Hoje, ocupa o cargo que sempre quis, ainda que negue, viajando constantemente, distante da casa, do filho, da esposa e, sobretudo, de mim. Mesmo assim, insiste em dizer que não busca crescer, que é apenas metódico, organizado, cumprindo etapas.
Talvez eu tenha feito tudo isso não apenas por ele, ou pelo filho dele que sempre tocou meu coração. Talvez eu tenha feito isso por mim, por uma fome silenciosa e ardente que carrego, que não se satisfaz vendo alguém parado, estagnado na vida. Foi, afinal, minha própria vontade de potência projetada em alguém que não estava pronto para admiti-la.
Hoje percebo: a grandeza de alguém não pode ser construída por mãos alheias. Podemos apontar caminhos, abrir portas, apoiar e encorajar. Mas o passo decisivo, aquele que realmente transforma, só pode vir de dentro. Só quando o outro reconhece sua fome, sua própria verdade, é que o crescimento acontece verdadeiramente.
Quanto a mim, ficou a lição: antes de alimentar o sonho de alguém, preciso admitir, com coragem, os meus próprios sonhos. Só assim a fome se transforma em combustível—não mais projetada, mas plenamente vivida. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 13/04/2025
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