![]() Cartas que nunca vou te enviar: A cura
Eu pensei muito antes de escrever. Não porque me faltassem palavras, mas porque me sobravam. Elas se aglomeravam na garganta toda vez que eu lembrava do quanto mergulhei de olhos fechados — por você.
Por nós, talvez.
Mas agora, olhando de fora, parece que a coragem que eu achava ter era só o desespero vestido de entrega. Eu mergulhei fundo… achando que você estaria lá embaixo, estendendo a mão. Mas você nunca prometeu me salvar. E eu, cega pela vontade de ser salva, ignorei todos os sinais de que estava sozinha naquela imensidão.
Acho que o mais cruel não foi o silêncio, nem a ausência. Foi perceber que eu romantizei o salto. Dei a ele um sentido que só existia dentro de mim.
Você seguia em terra firme enquanto eu me debatia tentando chamar de amor aquilo que era só impulso, falta de critério, sede de afeto.
Hoje entendo: coragem não é pular sem medir. É saber esperar. É reconhecer quando algo não tem estrutura para sustentar.
E a gente não tinha.
Talvez nem mesmo você…
Porque não se constrói profundidade sem consistência. E eu estava disposta a construir, mas sozinha não dá. Amor não é salto de fé. É passo pensado. É chão que se cria aos poucos.
Essa carta não vai chegar até você. Porque agora eu entendo que algumas palavras são só para curar quem escreve. E eu escrevo para mim. Para lembrar que eu posso parar de mergulhar em abismos que só têm meu nome. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 12/04/2025
Alterado em 12/04/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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