... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

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Cartas que nunca vou te enviar: OK!

 

Depois de tudo que eu te falei.

Depois de tudo que eu fui.

Depois de tudo que eu fiz.

 

Achei que merecia, no mínimo, ser ouvida com o mesmo cuidado com que te ofereci o mundo — mesmo quando o mundo me faltava.

 

Mas eu não tive.

Tive um “ok”.

 

E esse “ok” me bateu mais do que qualquer silêncio.

Porque o silêncio a gente ainda tenta interpretar.

Mas o “ok”... o “ok” é seco.

É um corte limpo.

É a resposta de quem não quer entrar no abismo que você carregou por dois.

 

Sabe… eu me enganei. Achei que você era um porto, mas você era só um cais — bonito de ver, mas que nunca me deixou atracar de verdade.

 

E o pior é que, por muito tempo, eu me culpei.

Achei que eu tinha exagerado. Que eu fui intensa demais. Que eu fui boba.

Mas hoje, com o peito doendo e o coração mais lúcido, eu entendo:

Eu só fui inteira pra quem só sabia ser metade.

 

Você nunca me acompanhou no mergulho.

Você sempre ficou na beira, com os pés molhados e a alma seca.

E eu achando que bastava eu nadar pelos dois.

Que uma hora você viria. Que uma hora você veria.

 

Mas você não veio.

Nem viu.

Nem quis ver.

Nem quis vir.

 

E agora, depois de tudo, eu olho pra trás e não sinto arrependimento de ter amado.

Eu sinto tristeza por ter me esquecido de mim.

 

Mas já passou da hora de voltar pra mim.

Não com raiva.

Não com amargura.

Mas com a consciência de que amar o outro nunca deveria custar o abandono de si.

 

Então, obrigada.

Pelo “ok”.

Pelo vazio.

Pelo espelho.

 

Foi nesse descaso que eu entendi tudo que eu não quero mais ser…

…e tudo que eu nunca mais aceito sentir.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 11/04/2025
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