... Expressividade ...

"Decifra-me mas não me conclua, eu posso te surpreender! - Clarice Lispector

Textos


A arte

de não devolver o grito

 

Tem gente que não suporta ser ignorada. Não por causa do silêncio em si, mas porque ele revela aquilo que mais temem: a irrelevância.

 

E é isso que mais o fere.

Não foram minhas palavras — foram as que não disse. Não foram meus gestos — foram os que me recusei a repetir.

Ele grita, insiste, escreve e dispara e-mails como quem tenta furar uma parede com a unha.

Mesmo com alguns inversos significativos, dá sinais que nunca aprendeu que autoridade sem respeito é só barulho. É o velho script: um homem que confunde discordância com afronta, uma mulher que não abaixa a cabeça com ameaça.

 

E por isso late.

 

Porque não sabe mais comandar sem amedrontar, nem dialogar sem impor.

Porque só aprendeu a ser ouvido, nunca a ouvir.

 

Mas não é raiva o que me move — é soberania. Sim, eu poderia responder, desmontar argumento por argumento, expor a pequenez travestida de opinião…

 

Mas não.

Eu escolhi o incômodo do meu silêncio.

Não por covardia, mas porque já entendi que reagir a tudo é ceder o que tenho de mais valioso: meu eixo.

 

Ele não me fere. Ele só mostra, a cada novo e-mail, o quanto ainda depende da minha atenção para se sentir alguém.

 

E eu sigo. Firme, clara, inteira.

Porque como dizia aquele texto que andou circulando por aí…

 

“O silêncio da maturidade é mais ofensivo do que mil argumentos.”

 

E de fato é.

Porque quem grita por controle nunca suportará a soberania de quem não precisa mais se explicar.

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 05/04/2025
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