Para ele, meu erro mais bonito

Eu te conheci antes do meu corpo

saber gozar.

Quando eu era só ausência e medo,

uma boca sem nome querendo ser mordida.

Você chegou como chegam os vícios —

com o cheiro de tragédia e gosto de promessa.

Tinha o olhar torto de quem já machucou demais,

e ainda assim…

me fez abrir as pernas como quem reza.

Você dizia que eu era "forte demais pra precisar de você",

mas voltava — sempre voltava —

com aquele beijo de desculpa

e a mão que apertava meu pescoço como quem pede perdão.

Me amava nas entrelinhas,

me destruía nas evidências.

Eu era o abrigo,

mas você gostava mesmo era da tempestade.

Eu senti prazer onde devia ter dito "não".

Me calei quando gritei por dentro.

Fingimos que era amor,

mas era só fome.

Você me chamava de “minha”

mas nunca me levou.

E eu dizia “vai”,

mas ficava nua,

com os olhos implorando que você ficasse.

Não éramos casal —

éramos colisão.

Cama, vício, domínio.

Agora você finge que não sente,

e eu finjo que esqueci.

Mas meu corpo ainda lembra sua respiração suja

no canto da minha nuca.

E mesmo sabendo que você não volta,

às vezes eu me pego molhada

só de lembrar como era se perder em você.