![]() G-MIRMCultura de Segurança: quando a maturidade é declarada, mas não praticada
Participar de um treinamento estruturado de gestão de riscos é sempre uma oportunidade de olhar para dentro — não apenas da empresa, mas da cultura que se formou ao longo dos anos. E é nesse olhar mais crítico e profissional que algumas contradições começam a aparecer.
Em muitos ambientes industriais, especialmente os de operação contínua e alto risco, é comum encontrar profissionais com mais de uma década de atuação que afirmam ter acompanhado toda a evolução da organização. São pessoas que dizem, com propriedade, que “antes não havia nada” e que hoje há procedimentos, controles e ferramentas disponíveis. O problema é que essa narrativa frequentemente esconde um ponto cego: o lugar onde realmente estamos.
A autopercepção de maturidade nem sempre condiz com a prática. Estar há muitos anos em uma função não garante que as ações estejam no nível de comprometimento. Em muitos casos, ao aplicar uma análise mais fria e objetiva dos comportamentos, fica evidente que o cenário ainda é de maturidade básica — e não por falta de capacidade, mas por excesso de zona de conforto.
Outro ponto que não pode ser ignorado é a relação com empresas terceiras. A gestão de risco não pode parar nos limites da contratante. Integrar as contratadas ao processo de segurança é essencial, embora pouco praticado. Quando se fala em envolver fornecedores em treinamentos, auditorias, rotinas de controle e cultura organizacional, a resposta automática costuma ser: “isso encarece o contrato”.
E sim, encarece. Segurança, saúde e meio ambiente têm custo. Mas têm retorno — em confiabilidade, em produtividade, em reputação. Envolver os terceiros é sair da prática isolada para uma gestão integrada de fato. E isso precisa estar claro desde a origem do contrato, desde o escopo técnico até a definição de responsabilidades conjuntas.
Além dos aspectos técnicos e estruturais, há também uma dimensão humana que precisa ser reconhecida. Durante treinamentos e processos de implantação, é comum encontrar profissionais magoados com a empresa. Gente que não viu reconhecimento, que sente a falta de um plano de carreira, que carrega a frustração acumulada de anos. E essa frustração se transforma, muitas vezes, em resistência silenciosa.
Também há aqueles que se escoram no humor — fazem piada de temas sérios, ironizam procedimentos, esvaziam a importância dos protocolos. Não é desprezo. É uma forma de defesa. Mas é uma defesa que enfraquece o processo.
A verdade é que a maturidade organizacional não se alcança apenas com ferramentas. Ela depende de consistência, de alinhamento e, principalmente, de coerência entre o discurso e a prática. Não adianta dizer que estamos em nível avançado se ainda operamos com decisões de curto prazo, se a cultura não está enraizada, se a liderança não lidera pelo exemplo.
A evolução exige entrega. Exige reconhecer o que precisa ser reconstruído — inclusive as crenças que nos trouxeram até aqui, mas que não nos levam mais adiante. Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 03/04/2025
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