O preço de um like

Matéria sobre o caso

Era só uma brincadeira... só um vídeo... só mais uma exposição diária de intimidade. Ela mostrava, ele aceitava. Ou fingia aceitar. O público ria, curtia, comentava... e pedia mais.

Ana Beatriz era influenciadora. Ele, o namorado — constantemente colocado em situações vexatórias na frente de milhares. A relação virou conteúdo. O cotidiano, palco. A intimidade, espetáculo. E, num mundo onde o que importa é engajamento, ninguém parou pra perguntar se havia respeito... se havia consentimento real... se aquilo era mesmo saudável.

Mas todo roteiro tem um limite... e o desfecho, neste caso, foi trágico.

Não se trata aqui de justificar o injustificável. Um assassinato é uma violência inadmissível. Mas é preciso olhar para os sinais... para os silêncios que também comunicam... para o desconforto disfarçado de risada.

Vivemos uma era onde o valor das relações é medido por visualizações. Onde o outro se transforma em personagem... e onde a dor vira entretenimento. Expor virou hábito. Viralizar, objetivo. E o que deveria ser sagrado — o afeto, o limite, o respeito — virou moeda.

Psicologicamente, a violência não começa com um ato extremo... ela nasce do desequilíbrio. Da ausência de escuta. Do desrespeito que se repete, se acumula, se cala... até explodir. Filosoficamente, isso nos empurra para uma discussão sobre o vazio moderno, o culto à aparência e o preço que pagamos por sermos aceitos... mesmo que isso custe quem somos.

O caso de Ana Beatriz não é sobre um monstro. É sobre um sistema de banalização das emoções... onde a exposição do outro é permitida, incentivada e, às vezes, até aplaudida... até que alguém não aguente mais.

Não se trata de culpá-la... mas de enxergar que não há vencedores nesse jogo. Só perdas.

E que, talvez, antes de ligar a câmera, a gente devesse se perguntar: isso que estou prestes a mostrar é uma brincadeira... ou um pedido de socorro silencioso?

Porque, às vezes, o que começa como um vídeo... termina como um fim.